Uma cliente me chegou, enviada pelo seu médico, depois de três tentativas de operação de catarata. Relatava que no dia marcado para a cirurgia a paciente se apresentava, mas os exames preliminares acusavam alto valor na medida de pressão arterial inviabilizando a cirurgia.
Entrava em tratamento da hipertensão, regulava a pressão, agendava outra data e acontecia sempre a mesma subida de pressão. Até que alguém achou que o problema era psicológico e enviou a paciente para a consulta.
Fomos direto ao assunto e ela foi dizendo que a pressão subia porque ela tinha medo de agulha.
Achei que deveria fazer um procedimento de dessensibilização, um procedimento comportamental em que se vai provocando familiaridade com o objeto: uma seringa pequena, uma agulha pequena, depois outra maior e assim por diante até que a pessoa perca o medo da agressão.
Estava eu já de posse de duas pequenas seringas quando, por acaso, ouvi a paciente dizer que as coisas iriam melhorar, pois Santo Expedito estava ajudando. Perguntei o que estava acontecendo. Ela disse que Santo Expedito havia arrumado uma inquilina para um quartinho que tinha nos fundos da casa. Eram quarenta contos para ajudar nas despesas. Emendou que tudo ficaria melhor quanto Santo Expedito arrumasse o passe de ônibus.
Não tive dúvidas, apelei para Santo Expedito.
Como nós tínhamos uma técnica de enfermagem que fazia coletas de sangue para os exames de HIV, propus para a paciente que se permitisse tirar uma amostra de sangue. Eu conhecia bem a habilidade da técnica de enfermagem, sabia que seria bem tranquila aquela intervenção e ajudaria no processo de dessensibilização.
Disse então para a cliente: “Você fecha os olhos e deixa por conta do Santo Expedito, confia, não vai sentir nada”.
Deixei a cliente com a colega da enfermagem e fui atender o cliente seguinte na agenda do dia.
No final da tarde, terminada a agenda, a técnica de enfermagem chegou preocupada com o procedimento, dizendo que tudo deu errado; foram três tentativa de “achar a veia” que deram errado, só conseguiu na quarta tentava.
Havia marcado retorno da paciente para o dia seguinte, ficamos apreensivos com os resultados daquela experiência fora do comum.
A paciente chegou tranquila; perguntei como fora e ela relatou:
– “Foi do jeito que o senhor falou: Fechei os olhos, disse para Santo Expedito: “agora e com o senhor” e esperei. Estava demorando muito, perguntei pra moça se ia doer na furada. Ela disse que só se doesse na saída, pois já tinha entrado.”
Olhei o braço da paciente, cheio de hematomas, mas ele disse que não sentiu nada porque foi Santo Expedito de fez.
Então já está resolvido. Pode marcar a operação e no dia, quando chegar no portão do hospital, você combina o serviço com Santo Expedito e entra tranquila.
Um mês depois, a cliente veio ao consultório para mostrar o resultado da operação, tudo tinha dado certo. Perguntei como fora a operação, ela relatou:
Foi do jeito que nós combinamos aqui. No dia marcado, cheguei cedo e no portão do hospital falei com Santo Expedito: daqui pra frente e com o senhor.
No fim da tarde, o médico veio tirar o curativo e olhar o resultado da operação. Ele falou: Está muito bom, pode ir embora. Aí eu disse: Também, foi Santo Expedito que operou!
O médico disse assim: Então foi por isso que estava tudo mais fácil, nem parecia que eu estava trabalhando!