Você pode ser uma empresa prestadora de serviço.
Seja lá qual seja a sua profissão, sua ocupação, sua atividade, estará sempre participando de uma atividade de troca, e no momento que envolve dinheiro nessa transação, está agindo de forma mercantil.
Vamos analisar situações genéricas, que podem perfeitamente enquadrar-se em casos vem conhecidos por você.
“Seu” Manoel Português, era empregado de uma empresa, trabalhava de faxineiro. não era vendedor, era faxineiro, fazia limpeza. Um dia foi despedido, já tinha mais de 50 anos, nessa idade não conseguia passar em qualquer teste de seleção, isso quando conseguia chegar aos testes, normalmente era barrado no recrutamento.
Desesperado, sem poder recorrer a qualquer outro expediente, saiu vendendo vassoura (produto que conhecia bem), de porta em porta.
Numa loja, onde entrara para vender suas vassouras, a proprietária começou a reclamar que não adiantava comprar equipamentos de trabalho, porque os empregados só estragavam e não limpavam direito. Em tom de brincadeira a senhora perguntou ao “seu” Manoel se não tinha uma vassoura mágica que deixasse tudo limpo sem ter que arrumar encrencas com os empregados.
-Eu tenho, mas não vendo.
A lojista ficou curiosa e quis saber qual era a brincadeira que o português estava aprontando.
Ao invés de a senhora comprar vassouras, porque não me paga para deixar a loja sempre limpa. não vai ter que pagar empregados, vassouras, panos, detergentes; deixa por minha conta, eu deixo tudo limpo. Saiu dali com um contrato de prestação de serviço (verbal, inicialmente), e voltou no dia seguinte para “dar um trato” na loja.
No mesmo dia, passando por outra loja, ao invés de oferecer vassouras, ofereceu limpeza. Em pouco tempo estava com uma empresa de prestação de serviços de limpeza.
Qual a diferença do serviço comprado pela empresa quando contrata uma empresa de prestação de serviço, ou um empregado de faxina? Um vende serviço, outro pede emprego.
O JARDINEIRO
José da Silva, quase analfabeto, veio da roça para a cidade e o único emprego que conseguiu, foi ajudante de obra na construção civil. Quando o empreiteiro terminou a obra, demitiu o José.
No dia que foi procurar o patrão, para receber os dias trabalhados, ouviu, enquanto esperava, o dono da casa dizendo que iria precisar de contratar uma empresa de jardinagem, mas que isso poderia sair muito caro. No desespero de “desempregado” criou coragem e ofereceu para fazer “os canteiros e plantar as mudas, desde que o proprietário dissesse como queria que fizesse”.
Antes de terminar aquele jardim, já fora contratado por outro vizinho para o mesmo serviço. José nunca mais foi ajudante de obra, agora é “paisagista”. Qual é a diferença entre um ajudante de obra e um fazedor de jardins? Um procura emprego, outro vende paisagem.
O LINGÜICEIRO
Irineu era vendedor “empregado” de uma empresa distribuidora de produtos alimentícios. Viajava a semana toda para cobrir o seu território e o salário era pouco. Começou a fazer linguiça em casa, no fim de semana, para ajudar no orçamento.
As vendas de linguiça começaram a render bem, as encomendas aumentaram, mas teria que trabalhar mais, só o fim de semana não dava.
Propôs, um acordo com a empresa, deixaria de ser empregado, mas continuaria a cobrir a sua cota de vendas, viajando por conta própria. Em pouco tempo passou a cobrir todo o território, com o mesmo volume de vendas, trabalhando dois dias por semana.
Qual é a diferença do vendedor “empregado” e do autônomo? Um faz relatório de viagem, outro faz vendas.
O CONSULTOR
Eduardo era um funcionário de alto escalão de uma multinacional, viagens constantes para o exterior, Estados Unidos e Inglaterra, a serviço da empresa. Um dia, numa reformulação burocrática, foi demitido. Tentou as mais diversas colocações em nível gerencial, mas nada conseguiu. Tentava conseguir emprego, como sempre fizera em 30 anos de carreira, mas sem resultados. Idade e salário, sempre eram os fatores que atrapalhavam. Sujeitou-se a rendimentos menores, mesmo assim, nada.
Resolveu estabelecer uma consultoria para assuntos internacionais naquilo que sempre fez. Hoje atende 6 empresas, ganha o dobro do que se fosse empregado de uma só.
Qual a diferença entre o empregado e o consultor? Um faz o serviço, outro vende solução.
Finalmente
Num primeiro momento, tratar gente como produto poderia ser estranho aos valores humanistas. No entanto, veremos que o objeto do comércio é o serviço. O serviço que um compra e outro vende. Na exposição dos exemplos de terceirização, vimos que atividade em si, na prestação de um serviço, não muda; a diferença está na relação comercial, no contrato de trabalho/serviço.
No momento em que a empresa passar a administrar os recursos humanos como já faz com outros recursos, a atividade pessoal somente tem a ganhar.
Pegue-se um exemplo bem comum no dia a dia de qualquer escritório – o aluguel de uma máquina copiadora- e analise os cuidados e importância que se dá máquina e ao operador. No momento em que as duas partes, comprador e vendedor, entenderem o objeto em comercialização, não vão pairar dúvidas quanto ao valor em discussão.
O trabalho não é a realização do ser, mas um dos preços que se paga para consegui-lo.
Inicialmente se tem que acabar com ideia falsa de emprego como fator de realização pessoal. não é o trabalho, o emprego, que vai proporcionar a realização do homem, nem mesmo o retorno que esse investimento pessoal possa oferecer. No momento em que se confundem os conceitos, os valores, a relação capital/trabalho já se começa com uma premissa falsa, resultando em desencontros.
Estabelecendo uma relação mercantil clara e objetiva, o trabalho e o capital terão melhorado as suas relações, chegando, pelo menos, ao nível das relações comerciais.
E … olhem, que se fazem transações comerciais até mesmo entre inimigos em guerra.
BIBLIOGRAFIA
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