Terapia na sexualidade

Terapia é uma palavra que não serve muito para as questões de sexualidade. Terapia é uma palavra específica para “cuidar de doente”. Geralmente as pessoas que precisam falar sobre questões de sexualidade não são pessoas doentes, apenas querem entender algumas coisas que se passam no seu mundo; coisas que, diretamente ou não, estão interferindo nas suas atividades sexuais.

O assunto sexualidade é muito controverso em nosso mundo atual; acho mesmo que sempre foi assim na maioria das culturas. Sexo é tabu na maior parte do mundo. Não é só pela mitologia judaica, da história de Adão e Eva, da noção de nudez, mas envolve a ideia de um castigo divino, algo que deve ser evitado; quando não, uma punição de uma força sobrenatural; a noção de impureza e de perigo; um escrúpulo injustificado, sem fundamento; uma interdição cultural que determina comportamentos, gestos e linguagem; uma proibição imposta pelo costume social como medida protetora; uma proibição de toque; e praticamente, não deve ser praticado.

Confunde-se sexo com ato procriador, pois o corpo humano não tem aparelho sexual, mas aparelho reprodutor e excretor que geralmente são envolvidos na questão da sexualidade. O sexo não está nos órgãos genitais, mas na cabeça, no pensamento. Daí a proibição de pensar, pois pensar em sexo é pecado.

Os animais, em geral, são levados à cópula por um mecanismo orgânico, o feromônio, ou algo ligado ao desenvolvimento biológico ou instinto. Não cabe trazer isso ao mundo humano, seria animalizar demais a questão da sexualidade como gostaríamos de tratar o assunto. Trepar qualquer cadela trepa, usufruir da sexualidade é outra coisa.

Por outro lado, sexualidade não é “fazer amor”. Amor não se faz, se sente. Nem se precisa de amor para transar. Há de se discutir aqui o que seja o amor, o sexo, a procriação, a transa, o desejo e muitas outras coisas mais que estão envolvidas no contexto em que se pensa a sexualidade.

Voltando ao início, não é de terapia que a pessoa precisa, não é de cuidados que se dá a um doente, mas é necessário um espaço de reflexão sobre o que seja a sexualidade para a pessoa que procura tratar do assunto, tratar no sentido de discutir, procurar entendimento dentro do mundo de cada um.

Muito que se quer discutir em sexualidade está entre o desejo pessoal e a limitação social; entre o instinto animal e a educação familiar; entre o certo e o errado; entre o bom e o mal; quase tudo um maniqueísmo que não leva a nada. Cada pessoa é uma pessoa, um indivíduo diferente de qualquer outro.

Muitos não gostam da palavra indivíduo por beirar a um egoísmo, ou egocentrismo. Mas para cuidar, no sentido terapêutico, podemos estudar o coletivo, mas devemos focar no individual, na pessoa em questão, no caso específico. Trabalhando com sexualidade, por mais de quinze anos, muitos casos foram parecidos, mas nunca foram os mesmos. Mesmo quando é a mesma pessoa que volta ao assunto, não é mais o mesmo enfoque.

Podemos falar sobre sexo, para que você se conheça melhor e fique bem consigo mesmo.

 

 

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