Saúde mental ou loucura?

Desde que o mundo é mundo, se procura explicar o fenômeno da vida. Nos últimos séculos a ciência se desenvolveu muito e conseguiu explicar uma série de coisas, mas por mais exuberante que sejam as forças da natureza, não há nada mais fascinante que o próprio homem. No entanto, uma das coisas mais difíceis de se conciliar cientificamente é a ocorrência de um estudo onde o sujeito é o próprio objeto de estudo.

Estudar o modo de pensar, o que ocorre no pensamento de uma pessoa, é muito difícil. A maioria dos cientistas que tentam progressos nessa área sempre encontram opositores quando da apresentação de seus trabalhos. Fernando Gonzalez Reis, psicólogo, especialista em epistemologia, diz que a ciência tem que ter diversas tendências, pois o pensamento humano não pode ser sintetizado numa única linha.

Diante às mais diversas teorias psicológicas, o leigo, a população em geral fica sem saber exatamente o que ocorre no mundo acadêmico e pouco se beneficia dos conhecimentos adquiridos.

Outro dia na TV Cultura de São Paulo, no programa Opinião Nacional, Heródoto Barbeiro solicitou de uma professora entrevistada, uma doutora em psicologia, a explicação sobre uma determinada patologia (falavam do maníaco do parque); a resposta foi deveras interessante do ponto de vista técnico:

Se eu procurar explicar da forma acadêmica com os termos mais exatos, o público terá dificuldades em entender, o que não atende os interesses de um programa jornalístico. Agora se eu disser o que penso, o que entendo, na linguagem popular, amanhã vou ser atacada por todos os lados pelos colegas da comunidade acadêmica.

Realmente fica difícil tentar traduzir para o popular algumas coisas que são objeto de linguagem científica, mas o povo deve poder absorver alguma coisa que lhe produza qualquer melhora no entendimento e ou nos procedimentos.

Falando sozinho

Uma das perguntas mais comuns, quando se toca em psicologia, é a preocupação que as pessoas têm em falar sozinhas, em discutir consigo mesmas.

Segundo Pichon, a personalidade se constrói numa relação bi pessoal entre o eu e o outro que existe dentro de mim. Esse outro eu é uma imagem com a qual discuto enquanto penso, é como se eu falasse comigo mesmo. Pichon busca o fundamento teórico nos conceitos de id, ego e superego de Freud, onde o ego (indivíduo) se localiza entre os anseios e desejos do Id (volição interna) e as regras e repressões do superego (valores absorvidos).

O pensamento é uma atividade linguística, vez que pensamos em palavras, queremos entender os sentimentos e transformá-los em palavras que provoquem o entendimento do que estamos sentindo. Ziraldo tem uma fala interessante:

“É comum dizer que uma imagem diz mais que mil palavras” Agora, me mostre como expressar isso sem dizer uma palavra.

Quando sentimos algo, estamos trabalhando com sentimentos, como se agíssemos com o coração. No entanto a cabeça quer participar do acontecimento e procura entender o que está se passando. Mas a cabeça não entende sentimentos, pensa em palavras. Aí começa o desentendimento entre o coração e a cabeça, o desentendimento do eu comigo mesmo pode até gerar uma discussão interna, um desentendimento, uma insatisfação.

O conhecimento internalizado através da educação familiar, escolar, religiosa, e do convívio social forma um outro eu dentro da gente:  O eu que a gente acha que os outros acham que gente deve ser. Este outro eu, dentro de cada um, costuma discutir com o eu original que tem desejos nem sempre aceitos ou aprovados.

Esse dinamismo é perfeitamente normal em todo mundo. As anomalias e os problemas mais significativos podem surgir a partir do desequilíbrio entre esses dois “eus”. Se o interno domina o externo, manifestam-se as rebeldias sociais, os comportamentos inaceitáveis pela sociedade. Se o externo domina o interno, acontecem os procedimentos totalmente artificiais e polidos, sem nenhuma manifestação da individualidade.

A busca da paz

Entre os orientais é muito comum a meditação, processo que parte do diálogo interno, o eu mesmo com o outro eu, até que essa conversa acabe de vez, onde os dois eus internos se entendam, ou pelo menos diminuam o ritmo da discussão, passem a conversarem. É a busca do pensar em nada.

A busca do nada interno, é uma busca da felicidade, vez que enquanto houver discussão interna, haverá briga consigo mesmo, onde o perdedor sempre é o próprio sujeito. Enquanto houver pensamento, haverá desejo, haverá querer, haverá ansiedade para conseguir. não querer mais nada, é estar satisfeito, é estar feliz.

Dizem que é possível chegar ao nada pensar, mas é muito difícil. Enquanto isso é bom procurar se entender, entendendo os dois que existem em si mesmo.

Assim como num diálogo entre amigos, é necessário entender o ponto de vista do outro, para evitar conflito. Não é necessário concordar, apenas conviver, procurar aprender com o outro, o que o outro tiver para ensinar.

Em resumo, falar sozinho, discutir consigo mesmo, não é loucura. Muito pelo contrário, é bastante saudável, pelo menos até que se consiga atingir a “iluminação”.

Equilíbrio entre pensamento e ação

Um santo remédio

Estou com dor de cabeça de tanto pensar! Será? Pensar, por mais esforços que se façam, não parece que possa causar dor de cabeça. Para começar, não é certo fazer esforço para pensar, antes pelo contrário, o mais recomendado é relaxar para pensar. O processo do pensamento, embora muito pouco conhecido cientificamente, não é um processo físico mecânico ou elétrico, com esforço muscular. Parece mais um processo fluídico, onde as coisas se acomodam mais do que entram em choques.

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