Saúde mental na empresa e no mercado

 

1. introdução

Pela constituição da OMS (Organização Mundial da Saúde): “A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”.

No entanto, em se falando da “mente”, é difícil estabelecer as medidas do limiar entre saudável e o patológico, visto as diferenças de cultura e de percepção da realidade entre as pessoas. Não é fácil estabelecer a diferença entre um pensamento concentrado num esforço meritório (recomendável) e o pensamento neurótico obsessivo (doentio).

Para se ter uma ideia da dificuldade de classificação ou definição do que seja exatamente um transtorno mental, eis o que consta na introdução do DSM-IV:

Embora este volume intitule-se Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, a expressão transtorno mental infelizmente implica um distinção entre transtornos “mentais” e transtornos “físicos”, que é um anacronismo reducionista do dualismo mente/corpo. Uma literatura vigorosa documenta a existência de muito de “físico” nos transtornos “mentais” e muito de “mental” nos transtornos “físicos”. O problema criado pela expressão transtornos “mentais” tem sido muito mais nítido do que sua solução, e, infelizmente, ela persiste no título do DSM-IV, porque ainda não encontramos um substituto apropriado. Além disso, embora este manual ofereça uma classificação dos transtornos mentais, devemos admitir que nenhuma definição especifica adequadamente os limites precisos para o conceito de “transtorno mental”. (p. xx)

Cabe lembrar que qualquer classificação de doenças, seja o DSM-IV ou o CID-10 (Código Internacional de Doenças, 10ª. edição), o que está sendo classificada é a patologia e não a pessoa. Por isso não se usa dizer “o esquizofrênico”, “o alcoólatra”, “o aidético”, “o sarnento”, “o tuberculoso”, “o lazarento”, mas, se for necessária a especificação, dizer do indivíduo que ora apresenta este ou aquele sinal ou sintoma.

2. A saúde mental na organização do trabalho

Na sociedade ocidental atual, onde a preponderância dos valores está na possibilidade de produção de riquezas e na capacidade de consumo, a saúde mental do indivíduo está muito atrelada à relação de realização na organização de trabalho. A situação de “desempregado” equivale a um atestado de “incompetência”, e poderia ser classificado como um “déficit de adequação”. A pessoa chega a perder a individualidade enquanto identidade pessoal e passa a valer apenas pela funcionalidade enquanto identificação profissional.

Há quem não se aposente porque, ao longo dos anos, não aprendeu o que fazer da vida se não for ao trabalho. Há quem se suicide quando da perda do emprego, pois a vida deixa de existir fora do trabalho. Há quem morra de medo de morrer se deixar de trabalhar. Isso tudo, inevitavelmente, de uma forma ou de outra, pode aparecer, em menor ou maior intensidade, a qualquer momento da vida profissional.

3. O consumo: patologia e terapêutica

Há quem adoeça por não poder comprar um produto, há quem melhore de uma patologia ao fazer algumas compras.
A hegemonia do marketing na sociedade atual elevou em muito o fator consumo nos índices de valor pessoal. É certo que já houve no passado o costume de medir as pessoas pelas suas posses, daí as construções de castelos e cúpulas de igrejas, daí as guerras de conquistas para ampliação de fronteiras, mas o marketing moderno criou a cultura do consumismo e até do exibicionismo do consumo. Inevitavelmente apareceu a deprimência pela constatação de impossibilidade de acompanhar o consumismo na sociedade.

Falar dos males do consumismo é fácil, existem muitos artigos sobre o assunto, mas convém despertar para o outro lado da questão, a felicidade em consumir. Vale dizer da virtude na construção de objetos de satisfação, a riqueza da aberturas de caminhos e do provimento de meios alternativos para realização de sonhos. Afinal, “Todo dinheiro do mundo, tirando o que o governo leva, é destinado às mãos de um vendedor”.

4. Apropriação

Classe de Marketing: Relatar casos de consumo doentio; e casos de “shopping-terapia”

Classe de Recursos Humanos: Relatar relações doentias com o trabalho; e casos de laborterapia.

 

5. Glossário

Deprimência: estado, situação de depressão; abatimento, aviltamento, degradação. (HOUAISS, 2001)

Hegemonia: supremacia ou superioridade (cultural, econômica ou militar) de um povo ou cidade-estado nas federações da Grécia antiga; supremacia, influência preponderante (exercida por cidade, povo, país etc.); autoridade soberana; liderança, predominância ou superioridade. (HOUAISS, 2001)

Mente: sistema organizado no ser humano referente ao conjunto de seus processos cognitivos e atividades psicológicas, parte incorpórea, inteligente ou sensível do ser humano; espírito, pensamento, entendimento (HOUAISS, 2001)

6. Referências Bibliográficas

DSM-IV Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 1995. 830 .

HOUAISS, Antonio. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro – Editora Objetiva, 2001 [CD]
OMS Constituição da Organização Mundial da Saúde. Consultado em 30/10/2005 no site: http://www.onuportugal.pt/oms.doc.

7. Anexo :

Dirigindo a própria vida
Carl Rogers fala de flexibilidade como condição para saúde mental. Num processo terapêutico bem sucedido há um movimento de um ponto caracterizado por fixidez para momentos de fluidez. Uma maturidade experiencial que dá ao indivíduo a capacidade de enfrentamento de novas situações pelo afastamento da fixidez e rigidez e de aproximação qualidade da mutabilidade. Outro dia, atendendo um cliente na Clínica Ortopédica, politraumatizado num acidente automobilístico, me ocorreu comparar o desenvolvimento pessoal ao desenvolvimento da habilidade em dirigir um carro. A conversa ficou mais ou menos assim:
Quando se é um motorista imaturo, inexperiente, há uma preocupação excessiva nos procedimentos e até um certo pavor dos outros que se aproximam do seu carro.
Nos procedimentos do motorista imaturo existe uma insegurança, uma falta de confiança, uma carga de cobrança que acaba por perturbar a atenção e o raciocínio. Tudo parece beirar os limites das possibilidades, cada troca de marcha é um problema sério, quase insuperável. Por via das dúvidas acaba ficando com o pé no pedal da embreagem. O medo de ser multado, de ter sua habilitação cassada, promove a exigência de dividir o olhar entre a estrada e o velocímetro. Esse comprometimento visual acaba por inviabilizar a possibilidade de ler placas de indicação e de ver a paisagem. Preocupado com os outros, tem medo de machucar alguém, incomoda-se com quem vem atrás, com quem está na frente, com quem ultrapassa, com quem cruza; se pudesse, gostaria de estar sozinho na estrada, uma estrada sem curvas, sem buracos, sem subidas nem descidas. Acaba quebrando a máquina, culpando o fabricante, reclamando do mecânico. Esse sofrimento atroz, deveras estressante, acaba por causar intenso cansaço, dores nas pernas e nas costas, dor de cabeça.
O motorista novato tem medo de tudo, até de falar com quem teve a coragem, ou a inocência, de embarcar com ele na viagem.
A partir da experiência positiva, com o desenvolvimento das habilidades, o motorista passa a viajar com seu veículo, curtir o passeio, atingir seus objetivos com mínimo cansaço. Sentindo-se preparado para qualquer evento possível, sem descartar as possibilidades de contratempos, sabe que poderá executar a melhor manobra quando for solicitado. Tranqüilo, mas atento, desvia dos buracos, enfrenta curvas como se dançasse uma valsa, desvia dos buracos como se pulasse amarelinha, sobe e desce ladeiras como se brincasse num parque de diversão.  Nem se incomoda mais com os incautos, os apressados que querem passar por cima, os molengas que só ocupam a estrada; sem alterar o seu humor, consegue administrar a viagem, chegar ao seu destino; e se não tiver destino, vive o passeio. Estar alerta não conflita com estar bem. O dispêndio de energia é mínimo, incomoda menos e dá mais prazer do que estar sentado no sofá de sua sala. Se a máquina quebra, simplesmente conserta ou manda consertar.
O motorista experiente pode curtir a viagem a sós, a dois, e até, com carro lotado com as mais diferentes pessoas.
Trazendo o exemplo para a vida de cada um, nossa mente é o motorista de nosso corpo, nossa personalidade é o motorista de nossa vida.
O imaturo vive tentando seguir regras rígidas (mesmo não concordando), com medo de errar; o maduro flui pelas possibilidades para fazer o melhor com menor gasto de energia.
O imaturo dá muita importância s opiniões e aos procedimentos das pessoas que o circundam ou cruzam seu caminho; o maduro ousa realizar os suas vontades dentro das possibilidades.
O imaturo gasta suas energias, desgasta seu corpo (fica doente) só de pensar no que fazer com os outros e para os outros; o maduro desfruta do seu veículo (seu corpo) e de sua viagem (sua vida).

 

 

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