As abordagens sobre o assunto “Recursos Humanos”, têm sido viciadas por um erro básico de enfoque no objeto central: O homem. Enquanto algumas abordagens esquecem o homem e promovem uma administração de recursos humanos voltada para a máquina que trabalha, outras tentam “resgatar” a humanidade do trabalhador, fazendo parecer vil qualquer posição da empresa. Faz-se necessário um entendimento das relações entre o trabalho e o capital, numa forma mais realista e menos extremada, sem, contudo, cair na mediocridade e mesmice de soluções conciliatórias. É uma simples constatação matemática quanto s possibilidades de vida, do homem, no contexto empresarial atual.
Tentar resgates puristas, baseado em estudos antropológicos de tribos perdidas, utopias socialistas, misticismos e mitologias, é lutar contra a realidade estabelecida. Podem servir como projeto a longo prazo, mas não atendem a necessidade imediata. O mundo está aí como está, e pronto. Agora é hora de dançar conforme a música, embalar-se nesse ritmo e, conforme a capacidade de cada elemento ou grupo, desenvolver adequações suficientes, novos passos, variações da coreografia, para a felicidade pessoal enquanto participante. Não adianta nada reclamar da música.
O desenvolvimento dessa sociedade como hoje se apresenta, pode provocar muitas críticas apontando erros e reclamos de justiça. Não digo que sejam erradas quaisquer proposições de mudanças de rumos, mas não é por isso que se deva parar tudo de imediato; partir para o tudo ou nada. O homem tem uma capacidade adaptativa extraordinária, basta querer e fazer. Não pretendo fazer qualquer juízo de valores quanto ao certo e errado nas relações capital/trabalho, mas adequar o homem que trabalha na empresa, procurando melhor produtividade e retorno do capital, concomitante a melhoria da qualidade de vida mental do trabalhador.
Monteiro Lobato(1) descreve o trajeto dos pensamentos de dois viajantes a cavalo que comentavam o temporal que se aproximava. Próximo dali havia um casarão abandonado. Um dos cavaleiros sugeriu que se protegessem no casarão, o outro lembrou que era mal assombrado.
“- Casa do inferno, chama-lhe o povo.”
Ao que o primeiro emendou
“- Pois toca para o inferno, já que o céu nos ameaça .”[1]
Muitos podem considerar um inferno a vida dos trabalhadores nessa sociedade de tanta desigualdade, cabe a cada um procurar um jeito de se proteger, e sobreviver. Nossa proposta é a utilização das mesmas ferramentas desenvolvidas pelo poder, como forma de adequação, sobrevivência, desenvolvimento e, até, na medida do possível, a felicidade. Uma das ferramentas mais utilizadas pelo poder econômico são as técnicas de marketing, daí a utilização da mesma linguagem para o “vendedor de serviço”.
Em 2 de fevereiro de l937, Sobral Pinto, interpelando pelo preso político Harry Berger, diante de todas outras argumentações jurídicas sem resultado (o preso permanecia jogado num cubículo, debaixo de uma escada), apelou fosse aplicado ao prisioneiro a Lei de Proteção aos Animais.
E, para que ninguém possa invocar o benefício da ignorância nessa matéria, o art. 3o do decreto supramencionado define:
“Consideram-se mal tratos: … ;
II- Manter animais em lugares anti-higiênicos ou que lhes impeçam a respiração, o movimento ou o descanso, ou os que privam de ar ou luz”[2]
Hoje, não bastando qualquer argumentação eficiente para o trato das pessoas de forma digna na relação capital/trabalho, que sejam tratados os seres humanos, os então recursos humanos, tal como se encaram os recursos materiais.
Vivemos numa sociedade hegemonicamente controlada pelo marketing. Tudo que se faz está dentro de projetos de marketing, sejam eles: grandes ações de governos, investimentos multinacionais, ou até, o simples orçamento familiar. Produzindo ou consumindo, todos estamos, conscientemente ou não, dentro do processo. Não há, no mundo, atividade desinteressada que seja, sem a participação dos mecanismos utilizados, em maior ou menor escala, implícita ou explicitamente, dos mecanismos manipuladores atingidos pela evolução do marketing em geral.
Tratar os recursos humanos como fora do contexto de marketing é, pelo menos uma miopia. Nossa proposta é mostrar como o desenvolvimento da ciência mercantilista pode e deve ser utilizada na negociação da força de trabalho enquanto os recursos humanos são um insumo de produção. A instituição, seja ela industrial, mercantil ou de prestação de serviços, sempre é fundada com fito exclusivo do lucro financeiro, através do fornecimento de produtos que venham atender as necessidades existentes ou a serem criadas no mercado consumidor.
Na atividade industrial, o investimento maior está na aquisição, seja por extração ou compra, de matéria prima para transformação em produtos de consumo, seja pelo consumidor direto ou através de venda para outras indústrias de transformação, e assim por diante, até chegar ao consumidor final. Dentro deste processo está a utilização de recursos humanos, como insumo nos meios de transformação.
Na atividade mercantil, o investimento está na aquisição de produtos, para estocagem e revenda para o consumidor final, ou através de outros distribuidores menores ou mais segmentados. Dentro deste processo está a utilização de recursos humanos, como mão-de-obra no processo de ligação entre os dois mercados.
Na atividade de prestação de serviços, propriamente dita, o investimento é voltado quase exclusivamente para utilização dos recursos humanos com uma determinada especialidade. Dizemos que por prestação de serviços poderiam ser englobadas também as outras atividades (indústria e comércio), vez que ninguém compra “o produto”, mas o serviço que se espera dele.
Mas para se falar do marketing da atividade profissional é necessário que se veja um pouco do que seja esse tal marketing.
Marketing- conceitos
Para Phillip Kotler da Northwestern University:
“Marketing é um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta e troca de produtos de valor com outros” [1]
Para E. Jerome McCarthy, da Michigan State University:
“Marketing é a execução das atividades que buscam realizar os objetivos de uma organização, prevendo as necessidades do freguês ou cliente e dirigindo o fluxo de bens e serviços para a satisfação dessas necessidades, a partir do produtor para o consumidor” [2]
Kotler fundamenta sua teoria a partir dos conceitos de necessidades, desejos e demandas, onde considera desejos humanos como estado de privação de alguma satisfação básica. Poder-se-iam discutir essas premissas na confrontação com a teoria psicológica das necessidades hierarquizadas elaborada por Abraham Maslow.
McCarthy elabora sua teoria a partir do processo de atendimento das demandas do consumidor. não é uma abordagem diferente do que estamos acostumados, pelo menos a ouvir, nos meios acadêmicos da educação e da psicologia – o ensino voltado para o aluno – a terapia voltada para o cliente, a pessoa como centro (Rogers): “Captar o mundo particular do cliente como se fosse o seu próprio mundo” [3]
No conceito dos autores de um best-seller “Marketing de Guerra”, onde relata a guerra das grandes empresas multinacionais no esforço de conquista do mercado, a melhor abordagem sobre marketing é do professor da Columbia University, John Howard:
Marketing é o processo de: (1) identificar as necessidades do cliente; (2) conceituar essas necessidades em termos de capacidade de uma organização para produzir; (3) comunicar essa conceituação aos diferentes níveis de poder da organização; (4) conceituar o produto adequado às necessidades do cliente, previamente identificadas; e, (5) comunicar todos esses conceitos ao cliente.[4]
Segundo o dicionário enciclopédico KOOGAN LAROUSSE, editoria de ANTONIO HOUAISS:
MARKETING s.m. (pal.ingl.) Econ. Estudo das atividades comerciais, que partindo do conhecimento das necessidades e da psicologia do consumidor, procura dirigir a produção adaptando-a ao melhor mercado; estudo de mercado; mercadologia.
Segundo o NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO, do mestre AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA:
MARKETING(ingl.) s.m. Econ. Conjunto de estudos e medidas que proveem estrategicamente o lançamento e a sustentação de um produto ou serviço no mercado consumidor, garantindo um bom êxito comercial da iniciativa. Correspondente em português, pelo uso, mercadologia.
O professor MARCOS COBRA, em MARKETING BÁSICO, apresenta dez definições. Entre elas:
“O desempenho das atividades de negócios que dirigem o fluxo de bens e serviços do produtor ao consumidor ou utilizador.” (American Marketing Association).
“O processo na sociedade pelo qual a estrutura da demanda para bens econômicos e serviços é antecipada ou abrigada e satisfeita através da concepção, promoção, troca e distribuição física de bens e serviços.” (Ohio State University).
“A criação, implementação e controle de programas para influenciar a aceitabilidade das idéias sociais envolvendo considerações de planejamentos de produto, preço, comunicação, distribuição e pesquisa de marketing.” (Kotler e Gerald Zaltman)
“É o processo de descoberta e interpretação das necessidades e desejo do consumidor para as especificações de produtos e serviços, criar a demanda para esses produtos e serviços e continuar a expandir essa demanda.”(Robert Haas)
Preferimos para uso, em curso de vendas e marketing, a declaração sucinta de Theodore Levitt, que resume tudo em “Marketing é conquistar e manter clientes”, o que, lá pelas bandas do Pau Arcado de Campo Limpo se diria: “Fazer freguês de caderneta”.
Cá entre nós… na minha terra, lá pelas bandas do Pau Arcado do Campo Limpo, existe uma expressão que traduz bem esse conceito:
… FAZER FREGUÊS DE CADERNETA
Caderneta, alguns ainda se recordam, era aquele caderninho utilizado para marcar as compras “fiado”, nos armazéns, açougues, padarias e quitandas
Com aquele instrumento arcaico se conquistava um cliente permanente, aquele que voltava sempre, comprava sempre e pagava para continuar merecendo o crédito.
Aí você diria: Hoje não se usa mais caderneta
Pois bem, veja o que é um cartão de crédito e qual a sua distância entre este e a antiga caderneta? Apenas o processo, na anotação da compra.
Conquistar o cliente, não é a tarefa mais difícil; manter é que são elas. Vender uma primeira vez, transferir a posse de alguma coisa, ou prestar um serviço, em troca de algum valor monetário, pode ser conseguido até sem maior preocupação. É a venda, não é o marketing. Um projeto de marketing, envolve desde a pesquisa de mercado em relação ao potencial de consumo, passa pela elaboração do produto, pela publicidade, pela venda, pela assistência técnica ou serviço, até a manutenção constante do comprador que vai continuar consumido.
1 KOTLER, Philip. Administração de Marketing. p. 25
2 in RIES, Al e TROUT, Jack Marketing de Guerra, p 2
3 ROGERS, Carl. Tornar-se Pessoa. p. 262
4 RIES, Al e TROUT, Jack Marketing de Guerra, p 2
5 Dicionário Aurélio (CD)