Reciprocidade nas relações interpessoais é o único modo de se conseguir a democracia – a exterior e a interior.
Jung falava destas coisas. Dizia que na primeira metade do tratamento, de regra, o paciente está muito preocupado ou muito ansioso para perceber o terapeuta.
Mas com a frequência, na segunda metade da terapia, quando já mais tranquilo e esclarecido, ele se põe melhor na situação “eu e você”: então começa, segundo Jung, uma acareação entre os dois. Já que fui pessoa importante para ele em circunstâncias difíceis da sua vida, ele quer saber – e ele tem o direito de saber – quem sou e quais os meus títulos de autoridade ou de competência para ter funcionado junto a ele como guia, apoio moral, conselheiro.
Jung achava e eu também acho esta exigência saudável e desejável. Quero dizer que quando isso não ocorre é ruim. Mas não é preciso, claro, que as coisas sejam assim, primeira metade, segunda metade.
Há enorme variedade de situações concretas e é sempre bom testar o que o paciente pensa, sente ou imagina de mim – e isto através de um interrogatório persistente e dirigido. Sempre que opiniões e percepções do paciente a meu respeito parecem exatas, deverão ser confirmadas – e negadas caso contrário. Nada melhor do que esse contínuo trabalho de aferição recíproca para manter limpa a relação consciente, e fazer com que os aspectos difíceis e obscuros das relações pessoais possam ser percebidos e avaliados. Se eu e o paciente não temos percepção comum, não temos o que fazer juntos.
Percepção comum é isto: o que eu percebo em você sei que é certo, porque você confirma, e o que você percebe em mim você sabe que é certo, porque eu confirmo.
Antes disso e como base para isso, porém, vai o acreditar no que o outro DIZ. …
Gaiarça, J.A. Sexo, Reich e Eu. São Paulo: Agora, 1985. (p.74)