Palestra sobre saúde física e mental, incluindo a sexualidade.

 

 

A Dilma me convidou para fazer uma palestra motivacional, para levantar o ânimo das pessoas que frequentam este hospital de acolhimento, os enfermos e seus cuidadores.

Considero que a vida de todos nós, a vida que escolhermos para nós quando fizemos o projeto de vida antes de nascermos, é o aprendizado que nos propomos adquirir nesta vida.

Vivemos para aprendermos a resolver os problemas que não conseguimos resolver nas vidas passadas. Mas a maioria de nós, não sabe, pois não aprendeu ainda, identificar o real problema que temos para resolver, confundimos problemas com circunstâncias que envolvem o problema. Sem descobrir qual é o problema real, ficamos imaginando soluções para um problema errado.

Se tenho um filho adolescente que me irrita, que me causa preocupação, acho que o filho é o problema, mas na realidade o problema está em eu não entender que ele vive a vida dele, no mundo dele, no tempo dele, e que o meu problema é a falta de entendimento de como conviver com a nova geração.

Se tenho um companheiro, ou companheira, que não me dá atenção que eu acho que mereço, fico dizendo que ele ou ela, é um problema, mas na realidade o problema sou eu que não consigo manter a atenção que eu conquistei quando começamos o relacionamento, que não evolui na compreensão do outro.

Se tenho pai ou mãe, velhos e doentes, que me dão trabalho, acho que eles são problemas, esqueço o quanto de trabalho dei para eles durante vinte anos ou mais quando eu ainda criança, adolescente, jovem e imaturo. O tempo passa e vivemos colocando o problema nos outros.

Na terapia, a primeira pergunta que faço é: “quem é você?”

Geralmente a pessoa diz que é difícil responder isso assim de imediato.

Pois é, digo eu, quando você conseguir responder bem essa pergunta, não precisará mais de terapia. “Conhece-te a ti mesmo” é a recomendação dos deuses do Olimpo, na mitologia grega, a mais de três mil anos.

Na terapia quando as pessoas vêm para reclamar dos filhos, dos pais, dos maridos, eu tenho que avisar que a terapia não começou ainda, pois estamos ainda na faze de fofocas, de falar mal dos outros. A terapia começa quando a pessoa começa a falar de si mesmo, quando começa questionar os próprios procedimentos, começa estudar a si mesmo para ver se consegue se entender, começa a si conhecer.

Lembrei daquela música de Dolores Duran: Castigo

 

A gente briga, diz tanta coisa que não quer dizer

Briga pensando que não vai sofrer

Que não faz mal se tudo terminar

Um belo dia a gente entende que ficou sozinha

Vem a vontade de chorar baixinho

Vem o desejo triste de voltar

Você se lembra, foi isso mesmo que se deu comigo

 

Eu tive orgulho e tenho por castigo

A vida inteira pra me arrepender

Se eu soubesse

Naquele dia o que sei agora

 

Eu não seria esse ser que chora

Eu não teria perdido você

Se eu soubesse

Naquele dia o que sei agora

Eu não seria essa mulher que chora

Eu não teria perdido você

 

Pois é, ele não está culpando o outro, está reconhecendo que não sabia, naquele tempo, o que sabe agora. Ou seja, aprendeu que o problema era ela mesma.

Meu problema de hoje, poderá ser entendido amanhã, pois se eu soubesse hoje não seria mais um problema, já teria encontrado a solução.

Difícil é identificar o problema. Outro dia fiquei irritado com um neto que não se interessou por umas recomendações minhas, até tinha separado cinco livros para ele vir buscar comigo, mas ele não veio.

Pensando bem, percebi que a vida é dele, com direito a fazer tudo que puder ou quiser, do jeito dele. Não tem como eu transferir os meus aprendizados de 73 anos, com os dele de 23. Nem sei mesmo que o que eu sei possa servir de alguma coisa para ele, nesse seu momento de vida.

Bem, até aqui, procurei dizer o que eu penso da vida, de como conviver com os outros, mas o mais importante é como conviver comigo mesmo, como cuidar do meu corpo.

Já houve tempo que se dizia da necessidade de exercício físico para melhorar a saúde mental. Corpo são, mente sã. No entanto, já se percebeu que a saúde do corpo depende muito da saúde da mente.

Vamos falar só de um mecanismo do corpo humano que pouco depende da interferência da medicina, onde a força da mente é maior que a administração de remédios: O sistema imunológico.

O sistema imunológico do corpo humano funciona para defender o organismo de agressões externas e internas.

Vamos começar por um exemplo bem simples: um arranhão no braço, um pequeno corte que sai sangue. Se você não fizer nada de assepsia, não passar nenhum remédio, logo vai aparecer uma água amarelada que logo vira uma massa branca, chamada pus, uma reação do sistema imunológico. Logo, o pus é o que resulta da ação das células de defesa do corpo (glóbulos brancos ou conhecidos também como leucócitos) contra as bactérias que o ameaçam e causam a infecção.

Nas artérias onde corre o sangue (hemácias) que levam oxigênio para todas as células do corpo, também correm os glóbulos brancos (leucócitos), igual aquele caminhão de lixo que tem alguns lixeiros correndo e catando o lixo do caminho.

Quando há uma agressão exterior, um corte no braço, os leucócitos correm para se sacrificarem por você. Sim é uma atividade suicida, por eles se juntam para tapar o buraco para não permitir a entrada de alguma bactéria maligna que poderia causar uma infecção.

Dentro do corpo também trabalham na limpeza geral, lutando contra o que possa ser ruim para os órgãos.

Todos os dias muitos trabalhadores brancos morrem em serviço, precisam ser substituídos para eu o serviço continue em benefício do corpo.

É bom lembrar que as células de sangue também envelhecem e morrem, duram três meses e precisam ser substituídas por células novas.

A produção, tanto do sangue vermelho, quanto dos leucócitos brancos, depende muito da vontade de viver. Se a cabeça pensa em morrer, o corpo não vai trabalhar na fabricação de novos elementos necessários para vida.

Numa segunda-feira, chegando no hospital, deparei com dois novos acidentados de Mairiporã. Um senhor de 50 anos, frentista de posto de gasolina, com os dedos de um pé amputados porque um caminhão tinha passado sobre os dedos e esmagado cada ossinho. Noutra cama um jovem de 23 anos, com 13 fraturas, atropelado por um caminhão na Fernão Dias. O senhor de 50 anos, dizia que queria morrer, “não sou homem para viver aleijado”. O jovem dizia que se saísse em cadeira de rodas, poderia ver a filha (de 3 anos) crescer. Na semana seguinte o senhor morreu de anemia mesmo recebendo sangue e de pneumonia mesmo recebendo soro com remédios. O jovem saiu depois de um mês, não de cadeira de rodas, mas de muleta.

O pensamento é mais forte que a medicina.

A alegria cura a alma, a tristeza azeda o fígado. Bondade cura doenças, maldade provoca mortes.

Tive uma colega de trabalho que tinha câncer, foi dispensada do trabalho, mas não quis se ausentar. Falei com o irmão dela para convencer a ficar em casa, ele disse: Doutor, é melhor ele vir trabalhar pois lá em casa ele briga com todo mundo, é um sossego quando ela vai trabalhar. Entendi, pois no trabalho era ranzinza e só reclamava de tudo e de todos. Morreu com duas férias vencidas e uma licença prêmio para gozar.

Falando em gozar, lembrei que tinham pedido eu para falar de sexualidade.

É bom que se diga que o corpo humano não tem aparelho sexual. Tem um sistema reprodutor para dar continuidade à vida no mundo, às novas vidas. Libido e potência são funções corporais para reprodução da espécie.

Sexualidade é outra coisa, o que chamam de sexualidade deveria ser tratada como sensualidade. A sensibilidade para sentir e gostar do próprio corpo e do corpo do outro. Gostar de uma pessoa não é gostar do que o outro tem, mas gostar do que vemos pelos nossos olhos. Normalmente as pessoas não mudam, mas muda o nosso jeito de olhar para aquela pessoa.

O que nos agradava, não agrada mais, o que gostávamos não gostamos mais. Os tempos são outros.

No enfermo ocasional, ou na velhice, podem faltar hormônios para a libido e a potência, diminui a testosterona, diminui o estrógeno, mas a sensibilidade pode manter e até prolongar o prazer da convivência com um relacionamento de amor e bondade. Trepar qualquer animal trepa, para reprodução animal, mas amar é um fator humano desenvolvido para melhor convivência do casal.

Atendendo muitos casos na terapia, sempre surge a reclamação do outro no relacionamento. Costumo perguntar se gostaria se a pessoas gostaria que a outra agisse exatamente como ela age com a outra. Não, sempre é a resposta.

O que você gostaria que eu fizesse para você?

Não sei, invente uma coisa.

O que?

Não sei.

 

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