Palestra para voluntários

Hospital Espírita Fabiano de Cristo – Caieiras

30/09/2018

 

Desejo, necessidade, interesse ou motivação se confundem no nosso vocabulário.

A pergunta é: “O que me leva a fazer tal coisa, ou o que me leva a querer tal coisa?” Aqui vamos focar na atividade de voluntariado.

Desejo é a vontade de completar algo que falta, pois só se deseja o que não se tem.

A falta é um buraco (cárie), o sentimento da falta é uma carência.

Qualquer motivação (o motivo para agir) pode ser estudada por mais diversos olhares, seja na psicologia, seja na sociologia, mas vamos conversar hoje sob os critérios da pirâmide de Maslow.

 

Maslow colocou em forma de pirâmide considerando que a maior quantidade de pessoas permanece mais na base desta pirâmide.

Vamos então considerar cada uma dessas posições na pirâmide, tanto do lado do voluntário, quanto do lado do seu beneficiário. Beneficiário, neste caso, é a pessoa que se beneficia do trabalho do voluntário.

Necessidades básicas fisiológicas, comer, beber, dormir.

Por mais evoluído que seja o espírito, se está encarnado, vive num corpo animal que tem sérias restrições fisiológicas tais como a necessidade de comer, beber e dormir. Não dá para viver se não der conta dessas três necessidades básicas da fisiologia do corpo animal, do corpo humano.

Maslow, em 1950, colocava a atividade sexual como necessidade básica, mas eu não concordo, não há um aparelho sexual no corpo humano, o sexo não está no corpo, mas no pensamento. Mas isso é assunto para outra palestra.

Quem está com fome, com sede, com sono, não consegue fazer mais nada. Não adianta apelar para sentimentos mais elevados, quando a necessidade básica não está suprida. Lembre-se que Jesus, não só ensinou como também multiplicou pães, peixes e vinho. Um pão, um copo d’água, um cochilo, por pouco que sejam, podem fazer muita diferença para quem está necessitado.

Vamos perguntar aqui: quem já sentiu fome de verdade? Quem já sentiu sede de verdade?  Quem já sentiu sono de verdade? Só quem já experimentou essa necessidade básica, sabe o impedimento que isso oferece para toda e qualquer outra atividade.

Bastaria somente isso para justificar toda e qualquer atividade do voluntariado que pretendesse diminuir a necessidade do outro nesse quesito básico. Um pão para quem tem fome, um copo d’água para quem tem sede, um canto para quem precisa dormir.

Necessidade básica: Segurança

A maior doença psicológica, o que mais aparece nos consultórios, é a insegurança, a falta de confiança em si mesmo perante os problemas que se apresentam na vida. Insegurança no casamento, insegurança no emprego, insegurança na rua. Insegurança de todo tipo.

Não é à toa que os políticos, todos, prometem investir na segurança do cidadão.  É um item que está em falta na população.

No nosso caso, aqui no Hospital, pretendemos oferecer segurança no fornecimento de atenção e acolhimento para os necessitados de remédio.  Poderíamos ter qualquer outro foco, mas foi eleito este em particular: Prover a farmácia de remédios suficientes nessa atividade de hospital de retaguarda. Para tanto, muitas atividades podem ser executadas com fito de arrecadação de recursos para provimento da farmácia.

O cidadão está inseguro quando às possibilidades de conseguir remédio no SUS, mas nós podemos minimizar esse sofrimento com nossas atividades para suprir a farmácia e dar segurança aos necessitados da nossa região. A insegurança dos diretores dessa instituição está na incerteza de conseguir atender a todos que precisam; daí precisarem da ajuda de vocês, os voluntários que vão agir no sentido de suprirmos as necessidades dos mais oprimidos.

Individualmente eu posso estar inseguro quanto às minhas possibilidades de ajudar tantas pessoas que precisam de ajuda, mas se eu estiver em equipe, posso ficar mais seguro quanto às minhas possibilidades. Isso remete à outra faixa de motivação.

Social, ser aceito no grupo.

O ser humano é um animal social, precisa aprender a viver em sociedade. O filhote humano não sobrevive se não for protegido pela sociedade. O animal humano não sobrevive se não tiver a proteção do grupo. No nível mais moderno, o jovem cresce procurando sua turma. O adulto procura ser sócio de algum clube, de alguma entidade.

Uma dessa entidade que podem atender às necessidades do ser quanto à sua participação social é o grupo de voluntários. Maior que os resultados que seu trabalho pode resultar para os outros, pode ser a sua saúde mental por estar participando de um grupo. O grupo nem sempre precisa ser de amigos, pode até ser de discussão e de divergências, mas é a participação no grupo. Vejam como os meninos se juntam para irem jogar com outras turmas, seja lá onde for, o importante é fazer parte do time.

Vejam como as pessoas procuram grupos virtuais (whatsApp, facebook, twiter, instagran, entre outros). É a necessidade de fazer parte de um grupo, de se socializar, de ser aceito.

Volto a insistir, é melhor participar de um grupo de brigas, do que não participar de grupo nenhum. Depressão é um sintoma doentio da falta de participação no grupo.

Muitos procuram uma instituição religiosa pensando participar de grupos homogêneos e felizes. Ledo engano. Nosso mundo é de provas e expiações onde a evolução é resultado da melhoria de nossos relacionamentos com nosso próximo e conosco mesmo. Sem aprender a conviver com os diferentes, dos divergentes, não crescemos para a maioridade espiritual.

Aprender a viver em grupos, apesar das divergências, é um caminho para a saúde mental de qualquer indivíduo. Falando nisso um dos grandes problemas psicológicos, que levam as pessoas aos consultórios, é a falta de convivência consigo mesmo, a falta de aceitação de si mesmo. Conviver com pessoas problemáticas pode melhorar a nossa aceitação e nosso entendimento de nossos problemas.

Poder, empoderamento, status, liderança

Votem em mim, aceitem minha liderança, escolham-me. Já ouviram isso?

É uma necessidade de status, é a necessidade de reconhecimento; não há problema nenhum em querer aparecer, querer ser querido. Olha eu aqui; num domingo, sem ganhar nada! Nada mais gratificante do que alguém que se lembra de mim, depois de tanto tempo, e me pede algo. Algo assim como uma palestra. Isso dá status, dá prazer, da satisfação, orgulho, vaidade. Isso porque um dia fui um voluntário aqui, me fiz conhecido, hoje sou reconhecido.

Não tem dinheiro que paga a sensação de poder. Muitos gastam fortunas para se elegerem a cargos que não trarão resultados financeiros, mas status. Há quem compre medalhas de comendador. Há quem doe uma ala de hospital. Doações que fazer bem maior para quem dá do que para quem recebe.

Revisando um pouco e já chegando para o encerramento, as necessidades básicas fisiológicas e segurança, estão quase no reino animal; as necessidades intermediárias de socialização e empoderamento já estão em patamar mais evoluído na convivência com o outro, mas a felicidade pessoal só é alcançada realmente no aprimoramento pessoal, na maturidade, no autodesenvolvimento.

Autodesenvolvimento, maturidade

Nada de novo. Os gregos já tinham a máxima “Conhece-te a ti mesmo.”

Embora nós todos tenhamos a base da vida como convivência com os outros, o nosso único fator de desenvolvimento é a melhora de si mesmo. Ninguém leva o outro para o céu, só dá para construir sozinho o próprio caminho. Aprender com os outros e ajudar aos outros, são atividades de caminho, não são pontos de chegada.

O ponto de chegada é o íntimo de cada um, o conhecer-se a si mesmo. Não adianta procurar o céu e o inferno nas estrelas, pois tudo está dentro do seu íntimo.

Alguém pode lhe ajudar dando comida, bebida, guarida, segurança, amizade e respeito, mas a felicidade sua só você mesmo pode encontrar.  Você pode ajudar o outro dando comida, bebida, guarida, segurança, amizade e respeito, mas tudo isso é para que você encontre a sua própria felicidade.

Encerrando, necessidade, motivação e felicidade, não são elementos fixos, variam a todo o momento, assim como a fome passa ou comer, a sede passa ao beber, o sono passa ao dormir, as necessidades e motivações se renovam a cada momento. Felicidade é um momento sutil de realização de uma vontade e depende da avaliação de cada um no momento em que acontece.

Um exemplo que costumo oferecer para reflexão: “Zezinho está andando de bicicleta. Qual a necessidade ou motivação dele?”. Pode estar trabalhando para ganhar dinheiro para comer (fisiológica); pode usando como transporte para escola (segurança); pode estar andando com sua turma (social); pode estar mostrando sua bicicleta nova (status); pode estar curtindo seu momento e você não tem nada a ver com isso.

Qual é sua motivação ou necessidade para ser um voluntário?

 

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