Ozélio

Magrelo como qualquer desnutrido pelas secas do sertão. Cara queimada do sol, rugas já bem pronunciadas, altura mediana daquela população. Os óculos não lhe caiam bem, parecia feito para quem tinha rosto maior.

Leve, pois não tinha peso, estava sempre disposto, nunca ouvi um não de sua boca. Solícito e atencioso vigiava o estado do meu carro e vinha pedir para lavar.

Eu tinha mudado de Recife para Maceió, com quatro filhos de 5 a 10 anos, e na hora de arrumar as roupas na casa nova, muitas já não serviam para ninguém. Perguntei para o Ozélio se sabia de alguma instituição onde eu poderia mandar uma boa quantidade de roupas pouco usadas que ainda poderiam servir para algumas crianças.

Ele respondeu:

– Pode deixar que eu vou buscar.

– Não, Ozélio, não quero te dar esse trabalho, só me diga a instituição que eu mesmo levo.

– Mas seu Rossi, é para minha casa, tenho doze filhos. Sempre pode se achar algum com tamanho certo para usar uma roupa nova.

Esta entrada foi publicada em Casos e contos e marcada com a tag . Adicione o link permanente aos seus favoritos.