Lá pelos anos de 1988, dando treinamento de vendas numa empresa de publicidade, fazia um programa de 40 horas em uma semana para formação de novos vendedores. Estava em Curitiba numa segunda-feira, iniciando a programação local, quando recebi um telefonema da matriz (São Paulo), dizendo que o colega que iria dar o curso em Fortaleza estava impossibilitado, a equipe estava formada e não tinha outra pessoa para assumir aquele encargo. Eu deveria compactar o curso para três dias em Curitiba e outros três dias em Fortaleza.
Viajei de Curitiba para Fortaleza na noite da quarta-feira, cheguei de madrugada. De manhã fui perceber a minha mala de viagem só com roupas de lã para os dez graus de Curitiba. Ainda bem que o hotel tinha ar-condicionado central. Não pude ser pelas ruas.
Começando o programa de treinamento, quando falava de técnicas do discurso, eu disse que o domínio das técnicas me permitia discorrer até dez minutos de um assunto qualquer, até de algo que eu não conhecia. Sempre fazia essa afirmação, sem maiores cuidados, mas desta vez houve um desafio:
– O professor conhece Messejana?
– Sei que é um lugar, mas não sei onde é, nunca fui lá.
– Então fala aí dez minutos sobre Messejana!
Nunca ninguém fizera tal desafio, fui pego de surpresa. Mas usando do conhecimento da técnica, fui elaborando o meu discurso:
Quando e onde:
Na segunda-feira, em Curitiba, quando soube que teria que vir a Fortaleza, logo pensei em José de Alencar:
“Verdes mares bravios de minha terra natal onde canta a jandaia na fronte da carnaúba.”
“Iracema, a virgem dos lábios de mel, cabelos longos como o talhe da palmeira, negros como a asa da graúna.”
Finalmente vou conhecer as terras do Ceará, que tanto me encantaram nos livros Alencar. Pensando bem, vou aproveitar para conhecer Juazeiro de Padre Cícero.
Busquei um mapa para me localizar na viagem, como ir de Fortaleza para Juazeiro. Surpresa, o Ceará e um grande estado. De Fortaleza a Juazeiro são quase seiscentos quilômetros, é mais do que a distância entre São Paulo e Rio de Janeiro. O Ceará é muito grande, não dar para ir e voltar num dia.
[até aqui foi um exórdio, uma introdução elogiosa para conquistar a atenção dos cearenses)
Com o mapa nas mãos, fui vendo as outras cidades do Cariri. Cantarolei:
“A vida aqui só é ruim
Quando não chove no chão
Mas se chover dá de tudo
Fartura tem de montão
Tomara que chova logo
Tomara, meu Deus, tomara
Só deixo o meu Cariri
No último pau-de-arara
Só deixo o meu Cariri
No último pau-de-arara
(Música de José Guimarães – Corumba – Venâncio)
Vi por ali, o Crato, famoso, Barbalha, Brejo Santo, Missão Velha, muitos nomes que já ouvira em alguma canção. Do outro lado tem Crateús, mais acima Sobral. Andei pelo rio Jaguaribe até Russas. Lembrei dos comentários de uma cheia do rio. Fui sentir frio na Serra do Baturité. Lembrei da produção de rosas em Ubajara.
E assim fui falando das cidades que me vinham à cabeça, afinal já tinha andado três anos por aqueles cantos, quando era gerente regional da Ford, comercializando tratores. É verdade que só conhecera mesmo Fortaleza, Crato e Juazeiro do Norte. Havia um revendedor em Fortaleza e uma filial no Crato. Outras cidades eu citei por ter ouvido dizer.
Mas eles não sabiam disso. Eu estava usando de técnicas de oratória e de recursos pessoais para entreter a plateia.
O fato é que, de repente, o aluno desafiador, interrompeu:
– O professor já falou 12 minutos e não disse nada de Messejana.
– Pois é, não deu tempo de chegar lá.
Terminada a demonstração de habilidade, usamos o exemplo para ensinar vender ideias como era do propósito do programa.
Em tempo: Messejana é um bairro de Fortaleza-CE, onde nasceram José de Alencar, Dom Helder Câmara e o presidente Castelo Branco; mas isso eu não sabia mesmo.