Fui solicitado a falar sobre o perfil do gerente de eventos, e a primeira coisa que devo falar é que não sou especialista no setor. Poderia falar como psicólogo com quinze anos de atividades, poderia falar como profissional de marketing com vinte e cinco anos de prática, e ainda, como cliente; e aí, somam-se os dois tempos, e mais um pouco.
Entendi que falaria para um público de estudantes de graduação em formação profissional, e não para especialização de profissionais formados em marketing, em hotelaria, em turismo, em administração, etc. Isso me desincumbe de chegar às minúcias de especialidades restritas focadas em atividades cada vez mais delimitadas. Conforme ementa do curso de tecnólogo em eventos: Tecnólogo em Eventos atua em instituições de eventos, de turismo e em meios de hospedagem, prestando serviços especializados no planejamento, organização e execução de eventos de negócios, sociais, esportivos, culturais, científicos, artísticos, de lazer e outros. Deve ter o domínio dos códigos funcionais e dos processos de interação dinâmica de todos os agentes integrados ao turismo e os variados aspectos culturais, econômicos e sociais da região em que atua, com consciência crítica acerca das orientações éticas, ambientais e legais. Procuram-se homens e mulheres que tenham esse perfil!
Falando como psicólogo
Na busca de um profissional perfeito, muitas empresas apropriam-se de testes de perfil que garantam a qualidade do profissional desejado. Algumas empresas contratam psicólogos para isso, outras nem tanto. Cabe alertar que mesmo no meio profissional, dentro da psicologia, encontramos muitas controvérsias sobre as possibilidades de garantias de resultados. Qualquer teste (entre os devidamente validados pelo CNP) pode ser um recurso auxiliar para o profissional de recrutamento e seleção, nunca porém ser por si só o diagnóstico final. Eu mesmo já fui submetido ao teste de QI duas vezes; na primeira dizia que eu era um gênio, na segunda nem tanto. Não fiz mais, pois se continuar assim não sei onde vai chegar.
Enquanto profissional de recrutamento durante muitos anos, nunca utilizei de testes para seleção. Sou mais antigo e ainda confio mais na entrevista com a conversa olho-no-olho. Também tenho que dizer das diferentes abordagens existentes na psicologia que privilegiam olhares diferentes sobre o mesmo objeto, no caso o ser humano. Existe a psicologia comportamental que privilegia a capacidade de resposta diante aos estímulos, outra que interpreta as emoções e sonhos (as psicanálises); e ainda quem procura ver o homem integralmente no seu contexto (as humanistas). Entre umas e outras, muitas variações. Sou daqueles que abordam a pessoa como centro das questões. Se tivesse mesmo que destacar uma habilidade entre tantas qualidades ou capacidades requeridas para o gerente de eventos eu destacaria a empatia. Ser empático é procurar se colocar no lugar do outro, como se fosse outro, mas sabendo que não é. É tentar ver como o outro vê, enxergar com os olhos do outro, para tentar entender como é visto o mundo pelo outro. Eu diria que a principal função de um evento é a satisfação de quem dele participa, ou de quem paga. Aí se precisaria saber o que é importante para os participantes, e/ou para os patrocinadores. Uma festa infantil, de aniversário de uma criança, o patrocinador pode querer a alegria dos convidados, ou mostrar luxo e poder para os convidados. Isso pode ser, da mesma forma, num casamento, numa comemoração empresarial, num congresso médico. Falando como psicólogo, o perfil desejado é o do realizador de desejos.
Como profissional de marketing
Fazer marketing, conforme Teodore Levit, é conquistar clientes e mantê-los. Conquistar até que é fácil, seja pela força, seja pela sedução. Conquistar pela força é a utilização de armas de guerra, mesmo na guerra de concorrência. Conquistar pela sedução é serviço do profissional de publicidade. Manter é que são elas, manter é mais difícil. Como se dia na minha terra, “lá pras bandas do Pau-arcado do Campo Limpo” fazer marketing é fazer freguês de caderneta. Manter um cliente fiel. Quanto menor o mercado mais se investe num cliente cativo, cliente satisfeito, cliente que volta. Num mercado sem limites, muita gente nem considera o cliente, só pensa no evento. Vender um evento significa somente fazer o contrato e realizar as ações contratadas. Mas fazer marketing representa buscar a continuidade das possibilidades com o mesmo cliente, no mesmo ramo, no mesmo segmento de mercado. Há empresas que nunca repetem eventos para os mesmos clientes, por isso têm que buscar novos clientes todos os dias. É uma empresa de vendas, não de eventos. Falando como gerente de marketing, o evento deve ser uma forma de ganhar o cliente, para novos eventos. Não uma operação comercial em si, mas um investimento na continuidade.
Como cliente
Eu gosto mesmo é de dizer do perfil do gerente de eventos como cliente de eventos. Acho que o mais importante para o profissional, de qualquer área, é ouvir o que o cliente tem para ensinar, mesmo e principalmente quando reclama. O cliente bom é o que reclama para a melhoria dos serviços, o cliente ruim é aquele que não reclama e nunca mais volta. Agora mesmo estou às voltas com a contratação de um hotel no litoral para um evento da associação de psicólogos onde sou diretor. Um encontro a portas fechadas no próximo ano, para cem pessoas por quatro dias. Vocês devem imaginar o trabalho que estou tendo – com o gerente de eventos do hotel. Isso agora, depois de pesquisar 22 locais, selecionar quatro, negociar com dois. Este é o melhor que encontramos, e precisamos nos esforçar para poder comprar seus serviços. Essa associação faz um evento menor a cada dois meses e um evento maior por ano. Lá se vão dez anos com isso e ainda não somos clientes de ninguém. Gostaríamos de encontrar um gestor de eventos para cuidar disso, mas onde? Antes dessa associação fui gerente de vendas da Ford, entre outras empresas de vendas e de treinamento. Realizei eventos em quase todo Brasil, de Porto Alegre a Belém do Pará; vivi em hotéis cerca de dez anos, contínuos. Uma vez fazendo o mesmo evento em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Salvador, na mesma rede de hotel, deu bem para avaliar o perfil do gestor de eventos: Em São Paulo eu ficava olhando o pessoal trabalhar enquanto o responsável do hotel ficava me consultava se eu queria assim ou assado, se preferia isso ou aquilo; no Rio de Janeiro tinha que mandar fazer cada coisa, mas cada coisa de uma vez para não criar confusão; em Salvador, mesmo mandando e reclamando, não saia o que precisava.
A prestação de serviço, ao gosto e à medida da vontade do cliente. Nem mais, nem menos. Eu pensava que iria recomendar uma novidade, uma percepção pessoal daquilo que venho pensando a algum tempo, o atendimento das necessidades do cliente, sem luxo exagerado, sem firulas e maquiagens, mas para minha surpresa, lendo alguns artigos para esta palestra, encontrei uma recomendação do órgão americano, uma associação de hotéis e eventos, para delimitar os gastos, cobrar menos, evitar o luxo desnecessário.