O estoque de embalagem

 

Não sei se é verdade, mas é o que ele costumava contar. Dizia que uma tribo cigana passara pelo sertão da Paraíba, ainda nos tempos de Lampião e por desleixo ou pressa de fuga, sobrou ali um menino raquítico. Nada consta sobre como sobreviveu, mas sua estória comercial começa lá pelos dez anos quando foi agregado de um dono de armazém. Era costume na região adotar alguém sem prática para o trabalho, sem remuneração, só para aprender a profissão. Quanto muito tinha pouso e comida.

Aos quinze anos, já dominando os procedimentos de recebimentos e estocagem, fez um acordo com o dono do armazém. Trabalharia todos os dias, depois do expediente, para abrir as caixas de produtos e arrumar nos seus devidos lugares do estoque e das prateleiras, em troca das caixas que seriam jogadas no lixo. De início foi amontoando tudo num canto, depois conseguiu um lugar fora dali para guardar as embalagens vazias.

Aos dezoito anos, alugou um armazém vazio e arrumou todo seu estoque de caixas fechadas.

Foi ao banco e conseguiu levar o gerente para ver o seu empreendimento. Havia um balcão simples, algumas poucas bolas e bonecas de plástico em exposição. No mais, uma infinidade de caixas fechadas, bem empilhadas quase lotando o armazém todo.

Disse ao gerente:

– Eu não tenho nome no banco e não tenho avalista. Tudo o que eu tenho é isso que você vê. Tudo que consegui está aqui na sua frente. Agora preciso que você me ajude com um capital de giro para eu poder abrir a loja.

Conseguiu o empréstimo do gerente do banco e abriu a sua primeira loja. O resto foi consequência. Outras lojas e outros negócios.

Alguns anos depois, eu estava passeando em Olinda, no seu iate, o maior da cidade do Recife. Ele já era empresário em Recife, pleiteara um título no Iate Club e fora negado, “por falta de pedigree”. Mandou ver qual era o maior iate do clube e mandou comprar um maior ainda e fundeou no cais do porto. Ao ser perguntado o porquê não usava a marina do clube, dizia que o píer da marina não comportava barco do tamanho do seu. Isso fez com que a diretoria do clube o procurasse e implorasse sua adesão ao clube.

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