O desenvolvimento humano – Piaget

Jean Piaget (1896-1980), suíço, é um dos mais discutidos teóricos da aprendizagem e do desenvolvimento. Sua obra compreende mais de 1500 títulos (Varma, 1980).

Depois de doutorado em zoologia, estudou psicologia e psiquiatria, acabando por desenvolver a “psicologia genética”. Muito de suas pesquisas sobre o desenvolvimento tiveram como objeto de observação o crescimento de seus filhos. Inicialmente o olhar era voltado para o biológico. (LERBET, 1976)

Estudando meus próprios filhos, compreendi melhor o papel da ação e, em especial, que as ações constituem o ponto de partida das futuras operações da inteligência. A operação é, assim, uma ação interiorizada, que se torna reversível e que se coordena com outras, em estruturas operatórias de conjunto. (Piaget, 1978:74)

Segundo Bock (2002):

O desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento mental e ao crescimento orgânico. O desenvolvimento mental é uma construção contínua que se caracteriza pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. Estas são formas de organização da atividade mental que vão se aperfeiçoando e solidificando até o momento em que todas elas, estando plenamente desenvolvidas caracterizarão um estado de equilíbrio superior quanto aos aspetos da inteligência, vida afetiva e relações sociais. Algumas dessas estruturas mentais permanecem ao longo da toda a vida. Por exemplo, a motivação está sempre presente como desencadeadora da ação seja por necessidades fisiológicas, seja por necessidades afetivas ou intelectuais. Essas estruturas mentais que permanecem garantem a continuidade do desenvolvimento. Outras estruturas são substituídas a cada nova fase da vida do indivíduo. Por exemplo, a moral da obediência da criança pequena e substituída pela autonomia da obediência do adolescente. (p.98)

 

Epistemologia genética:

Pressupostos: unidade mente e corpo. A atividade biológica e a atividade mental funcionam segundo as mesmas leis. A atividade biológica do sujeito tem objetivo de adaptação ao meio e contribui para organização do mesmo. O raciocínio da criança evolui segundo estágios sucessivos ao longo do seu desenvolvimento físico.

Primeiro estágio do desenvolvimento: Sensório-motor: Corresponde aos dois primeiros anos de vida e caracteriza-se por uma forma de inteligência empírica, exploratória, não verbal. A criança aprende pela experiência, examinando e experi-mentando com os objetos ao seu alcance, somando conhecimentos.

Segundo estágio da desenvolvimento: Pré-operacional: Vai dos dois aos sete anos de idade. Neste estágio os objetos da percepção ganham a repre-sentação por palavras. Desenvolve-se o “experimento” da linguagem, assim como anterior-mente ocorreria a experimentação da com os objetos concretos.

Terceiro estágio do desenvolvimento: Operatório concreto: Dos sete aos doze anos – as primeiras operações lógicas ocorrem e o indivíduo é capaz de classificar objetos conforme suas semelhanças ou diferenças.

Quarto estágio de desenvolvimento: Operatório Formal: A partir dos doze anos até a idade adulta – o indivíduo realiza normalmente as operações lógi-cas próprias do raciocínio.
Método Psicogenético – pontos fundamentais:
1. Situação Problema: o contínuo desafio à pesquisa, à descoberta e à invenção.
2. Dinâmica de Grupo: o grupo é o ambiente mais estimulador, que constrói a solidariedade, preservando a individualidade.
3. Tomada de Consciência: a consciência dos mecanismos utilizados na realização de uma ativi-dade apresenta-se como relevante.
4. Avaliação: processo diagnóstico permanente que auxilia e conduz o desenvolvimento.

Segundo Piaget, cada período é caracterizado por aquilo que o indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa seqüência, porém o início e o término de cada uma delas dependem das características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais, sociais. Portanto, a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida. (Bock, 2002:101)

 

Gênese e estrutura

Diremos assim que a gênese é um sistema relativamente determinado de transformações, comportando uma história e se conduzindo, de maneira contínua de um estado A a um estado B, sendo mais estável que o estado inicial e constituindo seu prolongamento. (Piaget, 1982:134)

Definiria a estrutura, de maneira mais ampla, como um sistema apresentando leis ou propriedades de totalidades, enquanto sistema. (Piaget, 1982:133)

 

Conceitos cognitivos básicos

Esquema: a base mental para processos acontecerem.
Assimilação: entendimento de algo novo, utilizando esquemas anteriores. Processo cognitivo em que a pessoa integra um novo dado conceitual nos esquemas ou padrões de comportamento já existentes. Os processos responsáveis pela mudança dos esquemas infantis para esquemas do adulto são – assimilação e acomodação. A assimilação ocorre continuamente – a assimilação possibilita a ampliação dos esquemas.

Acomodação: novo esquema estruturado a partir do conteúdo assimilado.
é a criação de novos esquemas ou a modificação de velhos esquemas, sempre diante de um estímulo novo; criação de um novo esquema; modificação de um esquema prévio de modo que o estímulo possa incluído; responsável pelo desenvolvimento – mudança qualitativa.

Equilibração: seqüência ou concomitância da assimilação e da acomodação.

 

Glossário:

Epistemologia: 1. reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conheci-mento humano, esp. nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo; teoria do conhecimento. 2. estudo dos postulados, conclusões e métodos dos diferentes ra-mos do saber científico, ou das teorias e práticas em geral, avaliadas em sua vali-dade cognitiva, ou descritas em suas trajetórias evolutivas, seus paradigmas estru-turais ou suas relações com a sociedade e a história; teoria da ciência. (Houaiss, 2001)

Referências Bibliográficas

BOCK, Ana M.B. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13ª Ed. São Pau-lo:Saraiva, 2002.
HOUAISS. Antonio. Dicionário eletrônico HOUAISS da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 [cd]
LERBET, Georges. Piaget. São Paulo: Ed. Nacional, 1976
PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982
VARMA, V, e WILLIAMS, P. Piaget, psicologia e educação. São Paulo: Cultrix, 1980

 

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