Há alguns anos fui dar um curso de vendas, 40 horas em uma semana numa empresa em Porto Alegre. Segunda-feira, oito horas da manhã, lá estava no endereço fornecido, uma escola no bairro de Santa Tereza.
Todo esforço em conseguir a participação da plateia era em vão. Lá pelas dez horas, eu disse:
– Agora uma pausa para o cafezinho.
– Não tem café.
Disse o supervisor da turma, sem se mexer na cadeira e ninguém mais se movimentou do lugar. Tentei brincar:
– Vamos, então, tomar um chimarrão!
O mesmo supervisor ironizou:
– E lá tu tomas chimarrão?
Respondi:
– Tomo, de vez em quando, para experimentar.
– Mas tu faz cara feia, né tchê?
A essa altura dos acontecimentos, percebendo o nível de tensão, pensei comigo: “pra gaúcho, gaúcho e meio” e falei alto e em bom tom:
– Faço cara feia quando o mate está aguado, pois gosto mesmo é do amargo da erva.
Dito isso sai da sala procurando a cantina da escola, mas não estava aberta e fui até ao bar da esquina, onde não tinha café e tomei um guaraná.
Voltei como se nada tivesse acontecido e levei o treinamento até à hora do almoço.
Logicamente fui almoçar sozinho.
Depois do almoço apareceram quatro guapos com toda tralha de fazer o chimarrão. O supervisor, aquele do confronto, preparou uma cuia e me passou para ver minha reação. Ao levar a cuia à boca, senti o cheiro de algo bem conhecido: de boldo-do-chile. Ele havia machucado uma folha verde de boldo no fundo da cuia para deixar o chimarrão bem amargo. Tomei calmamente o chimarrão, enchi de novo a cuia e passei para ele tomar em seguida. Ele não queria tomar, pois sabia do gosto que tinha. Foi minha desforra:
– Bah, tchê! Fugindo de um amarguinho desse? Isso lá em casa mainha dava de chá pra dor de barriga de piá.
Fui ousado, mas tinha que agredir para conseguir respeito de uma equipe de vendedores de campo, que fora convocada pela empresa e passar uma semana em treinamento interno com um desconhecido. No dia seguinte já tive companhia para o almoço, depois um convite para jantar e no final do curso, uma festa na churrascaria, onde cada um levou a família.