Horta caseira

Tendo visto propaganda do Sindicato Rural e da Casa da Agricultura, fornecendo cursos de horticultura, de horta caseira, de plantios de ervas e temperos, a Folha da Mantiqueira quis saber quais são as pessoas que costumam frequentar esses cursos, eis o surpreendente:

“De um lado estão os pequenos produtores, interessados em melhorar a renda da família, de outro, os chacareiros, geralmente moradores na Capital, que procuram a hora como uma terapia ocupacional ou lazer de fim-de-semana.” Relata o técnico agrícola Luciano Gonçalves Rahal, e continua: “Os mais pobres, os moradores da periferia, os desempregados, aqueles que poderiam e deveriam melhorar a renda familiar e a alimentação da família, esses não procuram aprender como tirar proveito de um pequeno pedaço de terra”.

Queremos fazer um apelo junto a nossos leitores, para que nos escrevam informando o porquê desse desencontro. Seria uma falta de informação suficiente? Seria o julgamento de não ter o direito de participar? Seria vergonha? não queremos fazer juízo crítico priori, gostaríamos de saber a razão correta para podermos encaminhar as soluções possíveis.

A horta caseira é uma das melhores fontes de saúde para toda família. Verdura e legumes frescos estão entre os mais recomendáveis alimentos para todas as idades.

Além do que, em termos financeiros, é um excelente negócio, tanto para a economia quanto para o aumento da renda. E tem mais, a atividade em si já é uma receita de saúde, tanto física quanto mental.

Causos doutras terras

Conheci em Belo Horizonte, quase no Centro da Cidade, um terreno de 10×30 com uma casinha no fundo, sobrando cerca de 200 metros quadrados de terreno. Nessa área um senhor cuidava da horta, principalmente salsinha e alface, dos quais tirava o sustento para a família e mantinha duas filhas na escola. Os moradores do bairro pagavam, sem reclamar, o dobro do preço da feira para consumir verduras colhidas na hora.

Em Ituiutaba-MG, acompanhando uma equipe de benfeitores que fazia distribuição de cestas de alimentos provenientes de uma campanha do quilo, desenvolvida por uma instituição religiosa, percebi que o quintal da família beneficiada era totalmente vazio. Fiz uma cara de bravo (isso não me custa muito), disse para o dono da casa:

– Se no próximo mês não houver um canteiro de couve no quintal, uma rama de chuchu crescendo na cerca, não daremos mais o alimento. Aí pelas ruas e pelos pastos há esterco suficiente e mudas se arruma em qualquer lugar.

Depois contei o que sabia de uma história de Campinas-SP:

Num bairro elegante, numa casa de um quarteirão, uma verdadeira mansão, morava o diretor de uma multinacional alemã. A partir das cinco horas da manhã, todos os dias, já se podia ver o casal trabalhando na horta. Das oito às nove horas, o portão dos fundos se abria para venda de verduras frescas por uma senhora muito distinta que atendia os fregueses da redondeza. O diretor da multinacional, ao invés de praticar esporte de elite, tal como tênis ou golfe, exercitava-se cavando e capinando, trabalhando a terra e sua esposa a acompanhava. Após o exercício matinal ele ia para o serviço e sua esposa vendia verduras. Vendia, não dava nem vendia barato. Com certeza esse diretor de multinacional não precisava do dinheiro da venda de verduras, mas também não jogava fora, além do que era uma forma de conquistar um bem-estar físico, trabalhando com a terra.

Ainda na casa do pobre que recebia a cesta de alimentos, complementei:

– Ora, se o diretor de uma multinacional, com salário por volta de vinte mil dólares por mês, fora toda mordomia, pode se dedicar a plantar couves, e vender, por que um pobre desventurado, desempregado, miserável, não pode plantar chuchu na cerca?

Houve quem desaprovasse minha atitude, mas funcionou. A instituição passou a exigir reciprocidade dos pobres que ganhavam a cesta de alimentos. Em pouco tempo as sobras das hortas caseiras estavam alimentando a creche da instituição com verduras e legumes.

Qual o segredo para se ter uma horta bonita e produtiva, além de um pouco de esterco e alguma dedicação?

Gostaríamos que nossos leitores procurassem incentivar os menos afortunados pela sorte que inclusive não sabem ler, informando sobre as possibilidades de uma simples horta.

Rossi, P.S. Horta caseira. Folha da Mantiqueira. Piracaia-SP, 25 out 1997, p.4

 

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