1.1. Prólogo
O projeto é uma peça acadêmica que promete estudar e ou mudar alguma situação – sair de um ponto A (um problema) para um ponto B (uma solução ou entendimento), passando por determinados processos (a metodologia). Tem que descrever o problema encontrado, que se deseja resolver ou adaptar, seja ele físico ou conceitual, especificar a metodologia, os caminhos pelos quais se enveredará para chegar às soluções ou entendimentos da questão. O ponto B pode não ser conhecido, mas o ponto A (o problema) e os caminhos (a metodologia) devem ser bem explicitados. Para fazer a caminhada, desenvolver os processos de pesquisa, há de se enumerar os recursos para a sua execução diante às necessidades e às possibilidades.
1.2. Introdução
Martins (1996) depois de apresentar uma extensa revisão bibliográfica sobre a saúde do médico e do estudante de medicina, concluía seu texto recomendando:
- desenvolver estudos e pesquisas sobre a saúde psicológica do estudante de medicina e do médico, visando detectar precocemente os grupos de risco;
- realizar trabalhos objetivando identificar os fatores estressantes nos anos de formação médica (graduação e residência médica).;
- implantar programas de qualidade visando aperfeiçoar o sistema de capacitação profissional
- criar serviços de assistência médica e psicológica para estudantes e residentes
- sensibilizar os estudantes, residentes e profissionais em atividade quanto aos riscos de desenvolver distúrbios emocionais e disfunções profissionais, que podem trazer consequências dolorosas para o seu bem estar, para os seus familiares e para os pacientes.
Em artigo de 2006, professores da Faculdade de Medicina de Botucatu publicaram o resultado de uma pesquisa realizada com os alunos de todos os anos da graduação em medicina. Do questionário utilizado para o estudo da prevalência e dos fatores de risco para transtornos mentais em estudantes, colocaram em destaque alguns fatores correlacionados a tais prevalências:
… morar sozinho, ter mesada insuficiente, não receber apoio emocional de que necessita, ter se sentido rejeitado no último ano, ter dificuldade para fazer amigos, não praticar lazer na frequência desejada, não estar adaptado ao local do curso, estar no quarto ano do curso, ter desejado abandonar o curso em algum momento da formação, apresentar auto avaliação ruim sobre seu desempenho escolar, ter perspectivas ruins quanto ao futuro e estar insatisfeito com a escolha profissional. (LIMA, DOMINGUES e RAMOS 2006, 1039)
Os autores concluem:
Por fim, o contexto no qual a educação médica se insere tem sua parcela de responsabilidade: individualismo e competitividade, próprios do sistema capitalista, exigências de mercado e expectativas sociais depositadas sobre o papel médico podem funcionar como potentes estressores ainda durante a formação profissional. As instituições de ensino superior deveriam refletir criticamente sobre este contexto, conhecer as características de seus alunos e os processos de formação, articulando estratégias para auxiliar os estudantes a enfrentar as dificuldades do cotidiano, visando a melhoria da qualidade de vida e a redução de sofrimento psíquico presente nessa população. (LIMA, DOMINGUES e RAMOS 2006, 1040)
Mais recente e do outro lado do Atlântico, uma dissertação de mestrado sobre a saúde mental dos estudantes de medicina daquela região, conclui por recomendar:
É necessário promover estratégias que promovam o bem-estar psicológico durante a formação médica, ensinem os estudantes a entender e a lidar com sintomas de distress e ajudá-los a reconhecer quando necessitam de ajuda, disponibilizando-a. (ROBERTO 2009)
1.3. As estratégias
Esta pesquisa, ora denominada, “estratégias singulares para o cotidiano” pretende estudar a percepção do evento estressor e as estratégias para o enfrentamento daquele sofrimento. Cada indivíduo exerce uma graduação singular na percepção dos eventos estressores e responde, também de forma singular, com sofrimento psicossomático. Faz-se necessário, como concluíram aqueles professores, “conhecer as características de cada aluno”, mas ninguém pode conhecer melhor o aluno do que ele mesmo.
Duas tecnologias da psicologia humanista, da Abordagem Centrada na Pessoa, podem ser utilizadas: O plantão e o grupo de encontro.
O “plantão” utiliza um espaço discreto onde um plantonista dispõe um tempo para atendimento informal e emergencial. Não há registro do atendimento em si, mas, por conta da pesquisa, pode-se sugerir o registro de depoimentos, uma “versão do sentido”, tanto do atendido como do atendente, e de forma anônima, não identificável, para alimentação do banco de dados, para o estudo científico.
Ao invés de propor um atendimento psicológico nos moldes tradicionais de acolhimento e aconselhamento, já comprometido pelo viés do preconceito, nosso projeto quer estudar as possibilidades de avaliação e enfrentamento dos fatores estressores por parte dos próprios alunos, futuros terapeutas. Leva em conta a onipotência latente própria dos estudantes de medicina, o processo se iniciaria com a divulgação da ideia de autocuidados do cuidador. Destacar a vulnerabilidade geral sem que o sofrimento individual seja um demérito pessoal. O aluno torna se monitor da própria saúde fazendo uso da interconsulta psicossomática, paciente e terapeuta numa única pessoa.
O “grupo de encontro” pautado pelos princípios da ACP: aceitação incondicional, empatia e congruência, pode ser marcado em qualquer lugar aprazível, ao gosto dos participantes, deve promover a integração social, o desenvolvimento pessoal, o alivio das tensões. É um espaço aberto para ouvir e para falar. Sem críticas nem ensinamentos. Liberdade e respeito. Não há ata do encontro, não há registro oficial. Para a produção científica, podem ser solicitados relatos individuais sobre o dinamismo do grupo.
Das participações nas atividades de atendimento, de grupos, de eventos, poderão ser desenvolvidas as “estratégias para auxiliar os estudantes a enfrentar as dificuldades do cotidiano, visando a melhoria da qualidade de vida e a redução de sofrimento psíquico presente nessa população” (LIMA, DOMINGUES e RAMOS 2006, 1040).
Do banco de dados, os registros das atividades, poderão ser produzidos artigos, dissertações e teses.
1.4. Problema
O estudante de medicina vivencia um sofrimento psicológico entre o peso da responsabilidade (aprender tudo e tornar-se médico) e o medo da incompetência (falta de preparo cognitivo e emocional).
1.5. Pergunta
Quais as possibilidades de ação imediata e minoração do sofrimento?
1.6. Objetivos gerais
Levantar dados pessoais e opiniões de grupos para a avaliação das possibilidades de intervenção concomitante.
Objetivos específicos:
- Levantar relatos da percepção do sofrimento e identificação da fonte de pressão;
- Levantar relatos da percepção de intervenções e a avaliação dos resultados positivos ou negativos;