quem tem filho, tem medo
Enquanto pais e professores procuram estudar psicologia para ensinar boas maneiras e vida saudável para os filhos, e nem sempre conseguem sucesso, a psicologia é plenamente aplicada pelos traficantes de drogas.
Segundo Maslow, psicólogo americano, uma das necessidades psicológicas do ser humano é a aceitação social, a vontade de ser igual aos outros, consumir e fazer coisas iguais aos outros para fazer parte do grupo. A moda no vestuário e no proceder estão enquadradas nessa categoria da pirâmide de necessidades.
A dificuldade dos pais e professores junto aos jovens poderia ser explicada pelo fato de serem grupos diferentes, viverem em mundos diferentes. O jovem não quer ser adulto como seus pais, não é seu momento, quer participar do mundo que lhe é mais próximo, quer ser igual aos iguais.
Os adultos pregam a necessidade de tanto sofrimento para se conseguir qualquer coisa, e isso não agrada ninguém. Sofrer para ser nada num mundo sem nada de bom?
Os adultos São muito incoerentes com muitas coisas, falam uma e fazem outra; há muita falsidade, riem com os amigos e em casa falam mal; muito suborno, compram as pessoas com dinheiro, inclusive os filhos; muitas falcatruas, sonegação de impostos e mentiras; além de muita reclamação sobre quase tudo, inclusive dos filhos; e ainda querem que os filhos desejem esse mundo. Na escola não é muito diferente.
É míope a visão do pai ou educador que pensa conquistar o jovem para os valores do mundo adulto, o jovem tem o seu próprio mundo, os seus próprios valores, vez que normalmente os valores dos pais e dos professores São falsos, divergentes entre o discurso e a prática. Os jovens costumam perceber a infelicidade dos adultos, um mundo que não é nada atraente.
É nesse ambiente controverso que o traficante consegue melhor penetração. Ao sugerir que todos os outros já “estão nessa”, o traficante induz o jovem a “também estar”, para não “ficar por fora”. Se o mundo adulto é tão complicado, tão problemático, por que não tentar uma saída nesse que se apresenta como tão bom?
Seduzindo com promessas de prazeres nunca antes experimentados ou provocando o instinto natural do jovem em desafiar limites, os traficantes são peritos em aliciar jovens para o consumo de seus nefastos produtos.
Enquanto muitos pais são “amadores” e despreparados, os traficantes são profissionais, agindo com todo conhecimento de psicologia para sedução e provocação. Sabem ouvir, sabem dar atenção e oferecem um mundo bem melhor para se aventurar.
É claro que depois de mergulhar nessa aventura, o jovem vai perceber que entrou numa furada. Vai perceber que todas as falhas percebidas nos pais e professores, são insignificantes ante a tantos problemas que ele passa a sofrer a partir das drogas.
Vai perceber que a pior das madrastas é “santa” diante ao traficante que cobra a dívida das doses. Vai perceber que o pior inspetor de alunos é um anjo, comparando ao traficante que o persegue.
Mas aí, costuma ser tarde. Vai perceber que o transe das drogas e muito curto em relação ao preço a pagar. Vai perceber que não era tão esperto quanto pensava ao dar seu passo inicial atrás do traficante.
O mais difícil de tudo, é fazer o jovem aprender tudo isso, sem antes sofrer as consequência da tenebrosa aventura.
Adote o seu filho, com amor e carinho, antes que um traficante o adote com promessas e mentiras.
(Publicado na Folha da Mantiqueira, Piracaia-SP, 1997)