Do trabalho de escola à produção acadêmica

Este artigo foi preparado para uma publicação prometida pela FMC, mas não aconteceu. Restou publicar aqui.

1.              Resumo

Este artigo é o relato de uma readequação no programa de graduação, em administração e ciências contábeis da Faculdade Metropolitana de Caieiras, com o objetivo de promover a iniciação científica e aumentar a produção de artigos científicos tanto dos alunos quanto dos professores. São apresentadas as justificativas de tal empreendimento e os resultados que se espera sejam conseguidos. Na especificação dos objetivos para produção dos artigos são delimitados os temas e indicados os métodos para o projeto, a pesquisa e a redação do texto. Destaca-se a participação do professor orientador de conteúdo como possibilidade de coautoria do texto por ocasião da publicação. É apresentada a estrutura básica do artigo conforme a ABNT destacando algumas recomendações técnicas.

Palavras-chave: artigo científico, metodologia de pesquisa, projeto, pesquisa, relatório.

2.              Introdução

A Faculdade Metropolitana de Caieiras estipulava no seu projeto inicial para os cursos de administração e de ciências contábeis a produção de uma monografia na disciplina denominada Trabalho Final de Graduação (TFG). No curso de administração a disciplina era dividida em dois semestres de 72 horas cada: no primeiro semestre (o sétimo do curso) dedicado para o desenvolvimento do projeto e a pesquisa teórica (TFGP), sendo outro semestre (o oitavo do curso) para a pesquisa da prática e a redação da monografia (TFGM). No curso de ciências contábeis projeto e monografia eram realizados num só semestre (o oitavo) com 108 horas de aulas (TFG). Nos dois cursos, após a apresentação na banca e as devidas observações dos professores participantes da avaliação, as monografias eram “passadas a limpo” e encadernada com capa dura ficando disponíveis para consulta exclusivamente na biblioteca da instituição, sem possibilidade de circulação externa.

Nos processos de avaliação do Ministério da Educação, aos quais são submetidos todos os cursos de nível superior, nos quais o curso de administração passou em 2010 e o de ciências contáveis passou em 2011, surgiram, na observação dos avaliadores, a observação sobre a falta de uma produção acadêmica, tanto dos discentes quanto dos docentes. Essa cobrança do governo brasileiro se explica com a posição do Brasil em 17º. lugar na classificação de produção científica (CASTIEL, SANZ-VALERO e Red-CYTED 2007). Daí o raciocínio metodológico entrou em cena: o tema é produção acadêmica, o problema é a falta de produção acadêmica dos professores e alunos da Faculdade Metropolitana de Caieiras, a pergunta foi – como podemos incrementar a produção acadêmica? Uma das ideias que foram propostas ao Núcleo Estruturante de Ensino (NDE), o órgão colegiado que discute, entre outras coisas, o currículo do curso, foi a transformação da monografia encadernada depositada na biblioteca por um artigo publicado numa revista eletrônica que poderia ser criada pela faculdade. A proposta foi levada a discussão e aprovada pelo NDE na reunião de 17/05/2011, ficando a regulamentação a ser apreciada nas reuniões seguintes. Assim sendo, as disciplinas continuam as mesmas, nos mesmos moldes, mudando a apresentação do trabalho final de uma monografia encadernada para um texto digital no formato de um artigo científico. Conforme a NBR 6022: “artigo científico: Parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento” (ABNT 2003).

Nas revistas científicas de ponta, com projeção internacional, são exigidos artigos originais para divulgação de avanços da ciência, mas esse não é o caso da revista da FMC que pretende estimular a formação de pesquisadores com a iniciação científica partindo da pesquisa das publicações de outros autores já consagrados, a pesquisa bibliográfica em artigos publicados em revistas acadêmicas. Poder-se-ia querer lançar os alunos ao campo de pesquisa da prática, ao confronto da teoria com a prática, mas a prudência recomenda que primeiro se faça uma boa leitura dos pesquisadores que já foram ao campo da prática e publicaram seus relatos. A característica principal desse trabalho é o relato de uma pesquisa envolvendo teoria e prática em torno de uma pergunta sobre um problema. Em síntese é o registro de um aprendizado.

3.              A pesquisa acadêmica

O dicionário Houaiss nos traz que palavra pesquisa tem o sentido de “buscar com cuidado, procurar por toda a parte; informar-se, inquirir, perguntar; indagar profundamente, aprofundar” (HOUAISS 2001). Poderíamos acrescentar investigação, averiguação, estudo, diagnóstico, etc. O que cabe ao programa universitário é o aprendizado do processo de resolução de problemas específicos, dentro de uma área de atuação, como treinamento para o enfrentamento da realidade empresarial nos anos seguintes.

Nenhum curso de formação é completo por mais específico que seja, sempre cabe uma especialização em nível de pós-graduação, por isso há necessidade de cuidar da delimitação das responsabilidades na iniciação científica que só acontece por ocasião da elaboração de projetos, realização de pesquisas e redação de relatórios científicos. Por isso a coordenação de cursos da Faculdade Metropolitana de Caieiras entendeu que a possibilidade didática deve ser considerada levando em conta a natureza do curso noturno, a graduação de alunos que trabalham e dispõem de pouco tempo para pesquisa de campo. Considerou-se que para a realização de qualquer pesquisa de campo, antes é necessária uma pesquisa bibliográfica, uma revisão da literatura disponível, uma atualização da literatura. Daí a opção por se restringir até esse ponto, deixando para os graduados, já em cursos de especialização, a atividade de campo. A aluno de graduação cabe buscar na biblioteca a teoria a partir dos autores clássicos nos livros didáticos e procurar relatos de práticas publicados em revistas acadêmicas por especialistas da área nos últimos anos. Desta forma já ocorre uma iniciação pelo menos em leitura de periódicos, independentemente aos resultados finais na produção de relatórios de pesquisa.

Inegavelmente, a adoção de recursos informáticos e a existência da Internet viabilizaram uma impressionante difusão e uma concomitante ampliação das possibilidades de acesso à produção acadêmica. Com esses recursos, como se sabe, é cada vez mais acessível pesquisar e obter fontes bibliográficas, utilizar bancos de informações, analisar dados e redigir artigos científicos (CASTIEL, SANZ-VALERO e Red-CYTED 2007, 3042).

4.              Temática

Os temas possíveis de serem eleitos pelos alunos seriam todos assuntos existentes no universo de administração e contabilidade, mas se resolveu limitar aos tópicos de cada disciplina constante no ementário do curso, vez que a pesquisa faz parte de um trabalho de conclusão da graduação.  Acrescente-se aí a vantagem de já ser acompanhada da bibliografia básica recomendada pela disciplina. Dentro de cada tema cabe ainda a delimitação da abrangência que pode dificultar uma pesquisa, cabe a focalização num detalhe, numa parte (tamanho), numa época (tempo), num lugar (espaço). Ainda quando o tema é proposto pelo professor, cabe ao aluno delimitar, com precisão, o tema indicado, ou seja, é preciso distingui-lo de temas afins, tendo presente o domínio sobre o qual vai trabalhar (SEVERINO 2004, 74).

Há uma tendência geral dos alunos em formação de terem a pretensão de criticar o mundo que não anda conforme a teoria estudada na escola. Afirmações do tipo: “Os pequenos empresários não utilizam as ferramentas de marketing”. Deverá ser incentivado o olhar do aluno sobre o problema como se (o aluno) estivesse no lugar do gestor da empresa, no caso da pequena empresa, e fosse enfrentar esse problema na realidade do seu dia a dia. Colocar o aluno no lugar de gestor ou de assessor, ou consultor, o mais próximo da realidade do recém-formado vivendo a prática profissional. Criticar o mundo é fácil, mas o importante no momento é o treinamento para o enfrentamento de uma situação real, o mais próximo do possível, no processo de aprender fazer.

Definido o tema, o aluno vai desenvolver, a partir da bibliografia clássica, dos livros didáticos, um arrazoado, um resumo teórico, uma base de sustentação do tema a partir de autores consagrados, alguns deles relacionados na bibliografia sugerida pela ementa da disciplina, ou indicada como acréscimos dos seus professores da matéria; outros autores a partir de pesquisa no Google Acadêmico que apresenta um escore de obras, livros ou artigos, pelo número de citações em outras publicações. Seria como dizer numa proposta de trabalho o que já sabe sobre o assunto a partir de suas leituras. Essa incursão na disponibilidade da literatura específica promove uma introdução do aluno no mundo do conhecimento específico, quase uma especialização, em contraste à diversidade em que se acostumou durante todas as disciplinas do curso. De certa forma é uma atualização da teoria inicialmente conhecida a partir de somente um autor através do livro didático adotado.

Não se espera dessa iniciação científica um trabalho original, mas o relato do estudo de um assunto, de um tema. Por outro lado, enfática e definitivamente, condena-se qualquer tentativa de plágio ou cópia de outro artigo. Fica bem claro que cabe ao aluno somente relatar o que leu da teoria e da prática sempre citando as fontes de suas pesquisas.  É a produção de um texto pessoal sobre o tema estudado em outros autores.

5.               Problemática

Quando se pede para eleger um problema dentro do tema a ser pesquisado, a tendência geral dos alunos em graduação é partir para uma recomendação mágica ou uma receita infalível para os empresários que não sabem o que eles, os alunos, julgam ter aprendido no curso superior. Geralmente denota uma falta de conhecimento da realidade empresarial. Na empresa não se escolhe o problema para estudar, para trabalhar, para resolver, pois os problemas aparecem sem nenhuma preferência especial deste ou daquele executivo – simplesmente aparecem. No entanto, para a realização do trabalho acadêmico, o aluno deve propor um problema possível dentro da matéria em estudo, dentro do tema, para que se crie a necessidade de pesquisar uma solução. Sem um problema a ser resolvido não há o porquê pesquisar.

Assim como na matemática, para se resolver um problema, a questão tem que estar escrita e equacionada. Explicitar a questão, eis um grande problema para a maioria dos alunos, e também para muitos profissionais até experientes. Quando se está no campo de trabalho, no cotidiano da administração ou da contabilidade, aparecem situações que exigem soluções. O profissional que lá está foi contratado na expectativa de que estaria apto para resolver as questões que normalmente se apresentam. Na atividade prática não precisa criar um problema, pois os problemas aparecem naturalmente. Geralmente os problemas são confusos, mal definidos, entremeados na diversidade, compostos na complexidade. Antes de qualquer coisa é preciso escrever o problema, seja em termos de qualidade ou de quantidade.

Por exemplo: “alguém diz que o problema é a baixa qualidade da mão-de-obra na empresa”. Ora isso não é um problema, é uma constatação; o problema a ser pesquisado pode ser a competência do recrutamento, pois se essa mão de obra está lá, alguém admitiu.  O problema pode ser a especificação do perfil profissional solicitado na requisição do departamento operacional, pode estar na escala de salários disponibilizados, pode estar até na imagem regional da empresa ou na sua localização.  Às vezes se tenta resolver o problema do sapato, quando o problema está no desenho do pé. Escrever o problema, equacionar a questão, não é um trabalho fácil para o aluno, geralmente depende de uma boa participação do seu orientador. Uma vez definido o problema, surge uma nova questão, a pergunta da pesquisa.

6.              A questão da pesquisa – a pergunta

Todo e qualquer problema pode ter uma série de desdobramentos possíveis; de alguns se procura o entendimento, de outros a solução, ou ainda, a acomodação possível. Se o problema é a chuva, não há como estudar a sua eliminação como ocorrência problemática, mas talvez se perguntar qual telhado possa oferecer melhor proteção. Sobre o problema definido existe um mundo de possibilidades de estudos e considerações. Eis algumas das possibilidades de perguntas:

  • O que é isso? (presente)
  • Como ocorreu isso? (passado)
  • Como pode ocorrer de novo? (futuro)
  • Quando ocorreu isso? (história)
  • Quanto tempo demorou a ocorrência disso? (duração)
  • Qual é o motivo de tal ocorrência? (motivação)
  • Quais as possibilidades de novas ocorrências? (incidência)
  • Por que isso ocorre? (razão, causa e efeito)
  • Até quando isso pode ocorrer? (previsão)
  • Em que intensidade tal fato de dá? (ocorrência)
  • Onde isso ocorre com maior ou com menor frequência? (geografia)
  • Quantas vezes isso já ocorreu? (história)

 

Uma vez definida a pergunta, e uma só pergunta, a pesquisa pode começar. Antes disso é correr sem rumo, é atirar para todos os lados sem saber qual é o alvo. Certa vez Albert Einstein atendia uma jovem repórter que se espantou com a capacidade do cientista em oferecer respostas. Ela exclamou: Mestre, você é um sábio, tem respostas para tudo. Ao que ele respondeu: Sábio é quem faz as perguntas. Uma boa pergunta é metade da resposta.

A gravidade sempre existiu; desde que o mundo é mundo, coisas caíram; mas a “lei da gravidade” só existe desde o momento em que Newton fez uma pergunta e procurou as respostas.

O trabalho do aluno em formação é a busca da parte teórica nos livros e os relatos da prática em artigos científicos que apresentem respostas à sua pergunta. Não cabe ao aluno avaliar a qualidade das respostas, mas relatar as opiniões de autores da área.

7.               Objetivos

Tendo definido o tema, estabelecido o problema e eleito uma pergunta, só resta ao aluno estabelecer o objetivo da pesquisa.

8.              Objetivo geral

Levantar dados necessários e suficientes para o atendimento de sua pergunta.

9.              Objetivos específicos

Especificar e tornar mais detalhado o objetivo para atender algumas possibilidades da pergunta. Um exemplo simples: O meu problema é a falta de informações sobre um subordinado no serviço. A pergunta pode ser: Onde ele fez o seu curso de graduação? O objetivo geral pode ser: Levantar informações sobre a formação do subordinado; os objetivos específicos podem ser o complemento dessa pergunta: Em que ano se formou? Qual matéria gostou mais? Como foram suas notas no último ano? Ou seja, transformando as perguntas em informações a serem recolhidas: Levantar a data de formação do subordinado; Verificar o seu principal interesse durante a formação; Avaliar a qualidade do rendimento escolar.

Especificar melhor o objetivo geral produz os objetivos específicos que podem ser inúmeros. A FMC propõe que o aluno, juntamente com seu orientador, eleja pelo menos três objetivos específicos e o relato de um “case”, o relato de uma prática já publicada no assunto em questão.

10.          Metodologia de pesquisa

No projeto de pesquisa o aluno já escolheu o tema, estabeleceu um problema e elaborou uma pergunta que gerou um objetivo geral além de diversos objetivos específicos, agora tem que dizer como fará a pesquisa para chegar aos resultados. Método é, literalmente, o caminho para atingir as metas. No caso do programa da FMC apesar de todas as possibilidades de pesquisa que o aluno está sabendo, pois fez parte da matéria de metodologia científica nos semestre iniciais, vai utilizar, nesse momento, somente a pesquisa bibliográfica.  Não uma revisão sistemática da literatura, mas um estudo aprofundado da questão conforme as instruções de seu orientador.

Bruno Latour compara o método a um guia turístico, apresenta as rotas a serem seguidas se se quiser chegar a determinados pontos. Não obriga ninguém a seguir todos os caminhos, percorrer todas as rotas, apenas mostra um jeito de fazer a caminhada (LATOUR 2008). Geralmente o jovem quer cortar caminho, inventar o próprio roteiro, e não adianta dizer nada, pois os arroubos da juventude implicam necessariamente na rebeldia; um dia o jovem amadurece e percebe que seria melhor ter caminhado pelas trilhas já indicadas, apesar das emoções vividas nos percalços.

O ponto de partida da pesquisa bibliográfica da teoria do tema em estudo está na ementa do curso onde consta a bibliografia sugerida por ocasião da disciplina e outra fonte básica é a literatura sugerida pelo orientador. Para o estudo da prática dessa teoria o aluno não vai pesquisar em campo diretamente, mas ler o que foi publicado pelos pesquisadores de renome que fizeram a pesquisa e publicaram em revistas acadêmicas, preferencialmente as revistas indexadas, nacional e ou internacionalmente. Não serão aceitas produções publicadas em anais de congressos e sites; não é questão de ter ou não alguma importância, mas pela qualidade atestada da fonte, nas exigências que envolvem a publicação de um artigo numa revista acadêmica conceituada – leia-se, indexada.

Ao consultar um artigo o aluno deve buscar dados sobre os autores nos currículos de pesquisadores da plataforma Lattes do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) http://lattes.cnpq.br, verificar a autoridade acadêmica, a graduação e a especialização do autor. A busca no currículo Lattes também serve para encontrar outras obras do mesmo autor.

11.          Da norma técnica

Quanto à redação a FMC adotou basicamente a normatização da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT: para projetos (ABNT, NBR 15287 2005); para apresentação do trabalho acadêmico (ABNT, NBR 14724 2005); para citações e referências bibliográficas (ABNT, NBR 6023 2002); para publicação de artigo (ABNT, NBR 6022 2003).

No entanto, como não se conta com as regras da ABNT nos programas de edição de texto tais como Word 2007 e Word 2010, onde um banco de dados facilita a administração das citações e das referências bibliográficas, optou-se por adotar nesses editores de texto o estilo “Turabian” que pela mesma origem na (International Organization for Standardization)  é praticamente tudo igual, com exceção de dois detalhes que podem ser aceitos normalmente, ou corrigidos com facilidade: na citação do documento onde aparece autor e data, a ABNT coloca vírgula entre autor e data, enquanto o Turabian não coloca a vírgula, apenas um espaço; e, na relação das bibliografias utilizadas, quando apresentam dois ou três autores, na ABNT sempre permanece a ordem do sobrenome, nome; enquanto no Turabian os segundos e terceiros autores aparecem na ordem nome e sobrenome. Apesar dessas pequenas diferenças, é de grande utilidade e facilidade para a apresentação correta do resultado final a utilização desde o início do trabalho daqueles editores de texto.

No ano de 1998 concretizou-se uma das profecias de Garfield, o idealizador e responsável pelo ISI que previu a concessão do Prêmio Nobel com base no número de citações. Em 1998 o Prêmio Nobel de Química foi ganho por J. A. Pople o segundo nome na lista dos cinquenta pesquisadores mais citados da química, um dos pioneiros na utilização de métodos computacionais à química quântica. (PINTO e ANDRADE 1999, 453)

12.          A orientação

O trabalho final de graduação tem uma característica singular por inovar na relação professor aluno, uma relação até então bilateral, para uma relação mais complexa, entre o professor da disciplina que cuida dos aspectos formais, que mantem uma relação semanal com os alunos em classe, orientando a metodologia científica para projetos, pesquisa e relatório, culminando com o artigo final para publicação, e o professor escolhido pelo aluno, ou pelo grupo de até três alunos, para a orientação do aspecto conceitual, o orientador de conteúdo. Essa diversidade pode causar problemas de percurso, mesmo que o professor de metodologia só cuide do aspecto formal das normas e o orientador entre só no detalhe do conteúdo, há um, dois ou três alunos entre os dois professores aumentando as possibilidades desacordos ou informações enviesadas, embora exista um relatório escrito das duas partes, sempre sobra um diz-que-diz.

O professor de metodologia com aulas semanais e atendimentos eventuais em alguns sábados, cuida da orientação técnica para o projeto, para a pesquisa e para a escrita dos resultados, enquanto o orientador de conteúdo, com encontros agendados a cada duas ou três semanas orienta o direcionamento do conteúdo e avalia a qualidade da pesquisa. O aluno, ou o grupo de alunos, mantem um “diário de campo” onde são anotadas as orientações e as verificações do andamento dos trabalhos, pelos dois professores.

13.          A avaliação

O trabalho final apresentado terá uma nota do professor de metodologia quanto aos aspectos estruturais, a qualidade da escrita, as normas técnicas; outra nota pelo professor orientador pela qualidade do conteúdo, mais as notas pela apresentação na banca, A banca é composta pelo professor de metodologia, pelo orientador de conteúdo e por um professor convidado pelo aluno ou grupo. A média das cinco avaliações será a nota do segundo bimestre da disciplina, não havendo possibilidade de prova substitutiva nem exame final por falta da média suficiente para aprovação na disciplina. Lembrando que qualquer deslize do trabalho em termos de cópia ou plágio é punido com a reprovação automática sem direito a revisão. Todos os escritos serão submetidos aos programas específicos de verificação de plágio; atividade essa que pode ser antecipada pelo próprio aluno ou grupo para não serem depois pegos em falta por um descuido de citação.

14.          A publicação

Desde que começaram a ser publicadas, no século XVII, as revistas científicas passaram a desempenhar importante papel no processo de comunicação da ciência. Surgiram como uma evolução do sistema particular e privado de comunicação que era feito por meio de cartas entre os investigadores e das atas ou memórias das reuniões científicas. (STUMPF 1996)

Uma publicação de 2007 consta que o BMJ (British Medical Journal) informa aos autores que aí querem submeter seus trabalhos que apenas 12% dos 6.000-7.000 artigos submetidos anualmente são aprovados  (CASTIEL, SANZ-VALERO e Red-CYTED 2007). Esse não é o caso da FMC, mas existe uma regra para premiar os melhores trabalhos com a publicação em sua revista. Embora a nota mínima para aprovação na disciplina seja sete, os artigos que serão enviados para o conselho editorial para publicação deverão ter nota mínima de nove e a concordância do professor orientador em assinar como coautor.

15.          Da estrutura do artigo

Como qualquer trabalho acadêmico o artigo deve apresentar uma sequência lógica de pensamento, introdução, desenvolvimento e conclusão. Eventualmente poderão ser aceitos anexos, quando essencialmente necessários.

Folha em tamanho A4, margem superior e esquerda com três centímetros, margem direita e inferior com dois centímetros. Corpo de texto com Times New Roman tamanho 12, com espaços um e meio entre linhas. Primeira linha com recuo de 1,25 cm; espaço extra antes e depois de cada parágrafos de 6 pontos. Títulos e subtítulos em letra sem serifa do tipo arial, tamanho 12.

A ABNT contempla duas categorias de artigo: “artigo de revisão: Parte de uma publicação que resume, analisa e discute informações já publicadas; e, artigo original: Parte de uma publicação que apresenta temas ou abordagens originais” (ABNT, 6022, 2002). Dentro desses parâmetros a proposta da FMC se aproxima do primeiro item, o artigo de revisão. No entanto não se pretende uma revisão sistemática da literatura, o que demandaria muito mais trabalho e, faça-se justiça, é obra para especialista, não para aluno em graduação.

16.          Elementos pré-textuais

O título do artigo em Arial 12 N e subtítulo, se houver, em Arial 11, centralizados no topo da página. Os nomes dos autores do trabalho, em Times New Roman 12 itálico, posicionados a direita. O resumo em um parágrafo único de dez a quinze linhas, limitado a cerca de 200 palavras, representando consistentemente o que se tem no corpo do trabalho, com a sequência de introdução, desenvolvimento e conclusão. Não se admitem citações no resumo. Em TNR 10 itálico, espaço simples. Cinco palavras-chave que representem o núcleo do trabalho.

17.          Elementos textuais

18.            Introdução

A introdução do artigo é uma apresentação da situação problema para o leitor que está chegando agora ao texto. Dizer do problema que gerou a necessidade da pesquisa, especificar o porquê da pergunta da pesquisa, o porquê do enfoque desta ou daquela forma de abordagem do assunto. Dizer quais foram os objetivos da pesquisa, gerais e específicos e a metodologia empregada para chegar aos resultados.

19.            Desenvolvimento

O desenvolvimento do trabalho pode partir de uma revisão da literatura sobre a teoria básica, um pouco de história e um pouco do contexto atual; e elaborar um tópico para os relatos dos achados para cada objetivo específico. Todo trabalho, ou pelo menos 80% dele, deve ser um relato das diversas leituras e as ideias transcritas ou comentadas têm autoria externa, sendo necessária e obrigatória a citação da fonte da ideia ou da informação, sob pena de ser considerado um plágio.

Transcrição literal é quando, na linguagem de computação, “recorta e cola”. Não é uma atividade recomendada, pois o que interessa é que o aluno conte com suas palavras o que entendeu na leitura da obra. Mas de certas frases não se consegue traduzir sem trair o sentido original. Como por exemplo: “Eu possa me dizer do amor (que tive). Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure” (MORAES 1960, 96). Assim em até três linhas a transcrição acompanha o texto do aluno colocando-se a frase entre aspas e a quando forem mais de três linhas, colocar em destaque no texto (MORAES 1960, 96):

De tudo ao meu amor serei atento.

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto.

Que mesmo em face do maior encanto.

Dele se encante mais meu pensamento.

Lembrando sempre, em ambos os casos, de citar, além do AUTOR e ano, a página da obra donde fora tirada a citação.

Quando o aluno elabora uma ideia ou escreve o seu entendimento sobre a leitura feita, não repetindo as mesmas palavras da obra original, é considerado como uma produção do aluno sendo apenas necessária a citação da obra original (AUTOR, ano). Muitas vezes o aluno fica tentado a opinar, quer dizer sua opinião no meio do texto, ao que se recomenda cautela. É preferível colocar uma pergunta, ao invés de fazer uma afirmação. No lugar de dizer “eu acho isso”, poderia simplesmente transformar em “fica aqui uma pergunta se isso não seria assim ou assado”. Da mesma forma há sempre o ímpeto de fazer avaliações quanto à qualidade da afirmação do autor pesquisado, ou de classificar opiniões entre diversos autores, o que deve sempre ser contido. Na coleta de dados de autores diferentes as ideias conflitantes ou divergentes podem ser enumeradas, transcritas, citadas, mas nunca avaliadas. Não é o momento de o aluno fazer avaliações, mas somente relatar o que leu. É claro que o escritor inteligente diz o que quer sem o dizer claramente e sem se comprometer. Mas por via das dúvidas é bom sempre utilizar do recurso da pergunta ou da exposição de dúvidas.

No relato de uma leitura única, sobre um assunto, gera um incômodo de se ficar repetindo a mesma fonte a cada parágrafo, o que pode ser plenamente resolvido com a leitura de dois ou três autores promovendo uma alternância elegante do relato entre diversas fontes. Não existe uma forma única de dizer o que leu, de produzir um relato, sem ficar repetindo a fonte: “Conforme Fulano de Tal….”, é o desenvolvimento da leitura de muitos artigos que vai dar ao leitor, agora escritor, uma tendência de estilo.

Lembrar que parágrafo é a exposição de uma ideia complexa e completa, não se separando aleatoriamente as frases como se fossem outros parágrafos. Frases de continuidade do assunto iniciadas em “Assim”, “Ainda”, “Isto porque”,  “Portanto”, “Além de” e mesmo as adversativas com “mas, porém, todavia, contudo” sempre remetem a uma subordinação ao mesmo parágrafo, não podendo ser disposto em outro parágrafo.

O trabalho acadêmico é a produção de um texto muito além da simples descrição de algo pesquisado (LATOUR e WOOLGAR 1997); pode ser de muitas atividades ou procedências, mas só se concretiza e se dá a conhecer quando da produção do texto, quando da tradução ou representação de algo em um texto.  O texto do pesquisador poderia ser uma fala sobre algo que não fala por si e caberia ao pesquisador o cuidado em representar ou traduzir, sem trair; isso me lembra Viveiros de Castro dizendo que toda tradução é uma traição (VIVEIROS DE CASTRO 2011), mas que tentaria, em sua obra, trair o menos possível. No entanto, de forma geral, o texto do pesquisador é a fala do pesquisador sobre algo, donde Latour apela para o “princípio da incerteza”, pois “é impossível decidir se reside no observador ou no fenômeno observado”  (LATOUR 2008, 40). Cabe ao aluno pesquisador, leitor de outras obras, produzir uma obra própria, um texto original.

20.            A conclusão

Na verdade, não se conclui nada. Um trabalho desse nível não se presta a conclusões, mas simplesmente “considerações finais ou considerações pessoais”, somente dizendo em resumo o que se apreendeu com o exercício da pesquisa, mas nunca concluindo definitivamente o assunto.

21.          Elementos pós-textuais

22.            Referências bibliográficas

Hoje já não há por que fazer tantas recomendações sobre a confecção das referências bibliográficas, pois o editor de texto já resolve tudo automaticamente (word 2007 e 2010), bastando para isso que o banco de dados bibliográficos seja corretamente preenchido ao longo do trabalho. Lá se vão os tempos que a gente ganhava dinheiro fazendo correção de bibliografia nos trabalhos acadêmicos.

23.            Anexos

Alguns documentos pesquisados podem ser úteis na especificação de alguns dados,  mas não ficam bem no meio do texto, dai serem apresentados como anexo como leis, tabelas, mapas, etc.

24.            Glossário

Glossário é um dicionário particularizado quanto o assunto em especial, a especificação dos conceitos que possam elucidar melhor a leitura do texto. Não se confunde com o dicionário comum, mas se justifica quando são utilizados termos específicos no texto que assumem características diferentes do vernáculo comum. Durante o trabalho o aluno, ou o grupo, deve anotar todas as palavras que possam compor o glossário, mesmo porque para o entendimento da leitura foi necessária uma pesquisa do conceito, seja no dicionário, seja na obra lida. No final, filtram-se os termos necessários para permanecerem. Pode até ser que nenhuma palavra seja escolhida para compor o glossário final, mas deve ser feito ao longo do trabalho fixação dos conceitos para o próprio uso do articulista.

Exemplo com base nas normas da ABNT:

autor(es) entidade(s): Instituição(ões), organização(ões), empresa(s), comitê(s), comissão(ões), evento(s), entre outros, responsável(eis) por publicações em que não se distingue autoria pessoal.

autor: Pessoa física responsável pela criação do conteúdo intelectual ou artístico de um documento.

citação de citação: Citação direta ou indireta de um texto em que não se teve acesso ao original.

citação direta: Transcrição textual de parte da obra do autor consultado.

citação indireta: Texto baseado na obra do autor consultado.

citação: Menção de uma informação extraída de outra fonte.

glossário: Relação de palavras ou expressões técnicas de uso restrito ou de sentido obscuro, utilizadas no texto, acompanhadas das respectivas definições.

palavra-chave: Palavra representativa do conteúdo do documento, escolhida, preferentemente, em vocabulário controlado.

referência: Conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados de um documento, que permite sua identificação individual.

resumo indicativo: Indica apenas os pontos principais do documento, não apresentando dados qualitativos, quantitativos etc. De modo geral, não dispensa a consulta ao original.

trabalhos acadêmicos – similares (trabalho de conclusão de curso – TCC, trabalho de graduação interdisciplinar – TGI, trabalho de conclusão de curso de especialização e/ou aperfeiçoamento e outros): Documento que representa o resultado de estudo, devendo expressar conhecimento do assunto escolhido, que deve ser obrigatoriamente emanado da disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa e outros ministrados. Deve ser feito sob a coordenação de um orientador.

 

Abstract

A versão em inglês do resumo.

Words-key – as palavras-chave em inglês

 

Alguns autores e algumas revistas contestam a opção de colocação do abstract no final o texto, mas nada mais lógico. Senão vejamos: a colocação do abstract logo em seguida ao resumo é desnecessária porque, se o leitor não lê em inglês aquilo é inócuo, e se a pessoa lê em inglês, mas já leu em português, não vai ler de novo. O abstract na realidade é uma tentativa de aparecer nos sites internacionais de busca e pode muito bem ficar no final do artigo.

25.          Referências bibliográficas

ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. “NBR 10520.” Apresentação de citações em documentos. Rio de Janeiro: ABNT, ago de 2002.

—. “NBR 14724.” Trabalhos acadêmicos. Rio de Janeiro: ABNT, dez de 2005.

—. “NBR 15287 .” Projeto de pesquisa. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.

—. “NBR 6021 .” Apresentação de periódicos. Rio de Janeiro: ABNT, out de 1994.

—. “NBR 6022.” Apresentação de artigos em periódicos. Rio de Janeiro: ABNT, maio de 2003.

—. “NBR 6023.” NBR 6023. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.

—. “NBR 6026.” Legenda bibliográfica. Rio de Janeiro: ABNT, mar de 1994.

—. “NBR 6027.” Sumário. Rio de Janeiro: ABNT, maio de 2003.

—. “NBR 6028.” Resumos. Rio de Janeiro: ABNT, nov de 2003.

CASTIEL, Luis David, Javier SANZ-VALERO, e Red-CYTED. “Entre fetichismo e sobrevivência: o artigo científico é uma mercadoria?” Cad. Saúde Pública 23(12) (dez 2007): 3041-3050.

LATOUR, Bruno. Reensamblar lo social: una introducción a la teoria del actor-red. Buenos Aires: Manantial, 2008.

LATOUR, Bruno, e Steve WOOLGAR . A vida de laboratório – a produção dos fatos científicos. Rio de Janeiro: Relume Dumará., 1997.

MORAES, Vinicius. Antologia poética. Rio de Janeiro: do Autor, 1960.

PINTO, Angelo C. e Jailson B, de ANDRADE. “Fator de impacto de revistas científicas: qual o significado deste parâmetro.” Química Nova 22, n. 3 (1999): 448-453.

SÃO PAULO, Secretaria de Estado da Saúde. Programa estadual DST/Aids. Vigilância Epidemiológica,. “AIDST – Boletim Epidemiológico 2010.” n. 1. São Paulo, SP: CRT, DEZ de 2010.

SEVERINO, A.J. Metodologia do trabalho científico. 22a.ed. São Paulo: Cortez, 2004.

STUMPF, Ida Regina Chitto. “Passado e futuro das revistas científicas.” Ciência da Informação 25, n. 3 (1996).

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2011.

 

 

Esta entrada foi publicada em Educação e marcada com a tag . Adicione o link permanente aos seus favoritos.