Na Ford havia um critério avalição no seu sistema de promoção profissional dentro da empresa, com transferência para outra área de atuação. Eu já estava com cinco anos no grau oito, como representante de área. Fui comunicado que deveria mudar de volta a São Paulo, trabalhar dentro de fábrica em São Bernardo. Grau nove, um monte de outros benefícios, além do aumento de salário.
Não era o que eu queria para mim, mas dependia do emprego.
Como última viagem na função, fui apresentar o setor para o novo gerente, Júlio Kroll, também recém promovido ao cargo. Maceió foi a última cidade na programação de visitas.
De Recife a Maceió, foram cerca de três horas de viagem de carro; chegamos antes do almoço com tempo somente para apresentações das pessoas e do local de trabalho. Conforme costume local fomos convidados para um almoço na represa do Mundaú, muito peixe, muita cerveja, muita conversa.
Na volta, Geraldo mandou o Júlio voltar com o Galba e me chamou para ir no carro dele. Já dentro do carro, Geraldo foi direto ao assunto.
– Você não está com vontade de voltar para São Paulo, certo?
– Sim. Não era minha vontade, mas preciso do trabalho.
Essa observação não me surpreendeu, pois era visível meu desconforto naquela situação, mas não esperava a oferta do Geraldo:
– Fica comigo, vem trabalhar aqui.
Eu que já sabia de diversas histórias de colegas da empresa que saíram para trabalhar em revendedores e não se deram bem, logo disse que não daria certo e logo eu estaria desempregado e malvisto na região.
– Eu lhe garanto um contrato de dois anos. Já faz três anos que acompanho seu trabalho de um dia por mês, aqui. Só quero que você faça isso todos os dias e ensine ao meu filho que está se formando e vai tomar conta do negócio.
Perguntei então ao Geraldo, o quanto ele iria me pagar para ser professor particular do seu filho.
– Eu cubro o que você ganha na Ford. Disse ele com toda tranquilidade.
Eu que conhecia a PEF (posição econômica financeira) da empresa, contestei:
– Mas aí vou ser metade da sua folha de pagamento!
Geraldo, incisivo, respondeu:
– Isso não é problema seu.
Tive que engolir seco. Dois anos de contrato, mais do que na Ford, só para ensinar o menino a fazer o que eu fazia normalmente, seria muita moleza. Já estávamos chegando na revenda, a conversa parou por aí. Deixei para pensar depois.
Voltando à reunião de trabalho, Geraldo, Galba, Júlio e eu; de repente, Júlio mandou que eu fizesse algumas anotações a serem executadas depois; Geraldo interrompeu como se estivesse ofendido:
– Espera aí, você não pode mandar meu funcionário fazer seu serviço. O Rossi agora é gerente da Cycosa Tratores, não é mais funcionário da Ford.
Confesso que foi surpresa para mim, tanto quanto para o Júlio.
Tivemos que parar a reunião e combinar os novos rumos, agora éramos três pela Cycosa e um pela Ford.
Foi um contrato de confiança, nunca foi escrito nada, foi um tempo feliz, minha estada em Maceió. Os dois anos prometidos viraram três e meio. Até o plano Sarney.
Acompanhei, depois, o progresso do Paulinho, agora senhor Paulo, com o sentimento que ter feito parte daquilo.