Conquistar

Por mais incrível que possa parecer, os procedimentos de marketing, os meios pelos quais consegue tantos e tão grandes resultados, estão baseados em situações corriqueiras do dia a dia, nas coisas mais simples e conhecidas da vida. Embora uma infinidade de definições, nas mais variadas bibliografias, o marketing pode ser muito bem entendido com a declaração de Teodore Levitt, um dos mais respeitados professores de nossa época: Marketing é conquistar e manter clientes. Tudo mais que se faça, sempre estará voltado para este intento.

Cabe aqui uma atenção especial para o primeiro verbo – conquistar:

Conquistar [Do lat. vulg. *conquisitare, freqüentativo de conquire.] V. t. d. 1. Submeter pela força de armas; vencer, subjugar: Carlos Magno conquistou grande parte da Europa e foi coroado pelo Papa Leão III Imperador do Ocidente. 2. Submeter, vencer, subjugar. 3. Adquirir força do trabalho; alcançar: Conquistou, na velhice, a fama de sábio. 4. Granjear, adquirir, ganhar (amizade, amor, simpatia, etc.): Tudo faz para conquistar as boas graças do chefe; Conquistou, enfim, o amor daquela mulher. 5. Fam. Obter a simpatia de (alguém): Tanto fez que conquistou o chefe. V. t. d. e i. 6. Tomar terra força de armas: A ndia conquistou Goa a Portugal. 7. Atrair, seduzir: Mesmo preso, tentou conquistar os adversários sua política. [1]

No entanto, quero lembrar dois verbos como aporte para o conceito que pretendo expor: bem-querer e malquerer. Da mesma forma que benquista e malquista, gostaria que conquista fosse entendido como “com-querer”, querer junto, querer também.

A maioria de nós quando lê esta palavra, tem seus pensamentos remetidos para os grandes conquistadores pela força, pelo saque, pela guerra; no entanto, o sentido melhor de conquistar é fazer um com-querer (conquista), assim como malquerer (malquista) e bem-querer (benquista). Embora sempre se pense no marketing como o bicho-papão, comedor de crianças, devorador de miseráveis, é na sedução do fazer com que o outro queira que está a grande ferramenta de conquista. Se bem que conquistar não é o mais difícil, manter é que são elas. Conquistar, em marketing, longe de ser um domínio pela força, é bem mais uma sedução, função dos benefícios. Mais próximos, portanto, dos itens 4 e 5 do Aurélio, que outros demais. Não é diferente do que Jesus dizia: Amai o teu próximo como a ti mesmo. Se ele quiser andar uma milha consigo, ande duas; se ele quiser sua capa dê-lhe também sua túnica. Pois é dando que se recebe.

O marketing estuda as necessidades humanas para fornecer os serviços e produtos que venham supri-las. Na ausência de uma necessidade real, e quase sempre a necessidade não é real, mas assimilada, o marketing procura promover a vontade para o assunto que lhe interessa, despertando a ansiedade de consumo pelo que interessa oferecer, chegando às raias da manipulação coletiva.

Visto assim pode parecer desumano, o despertar de carências para a exploração comercial, parece até o processo do traficante de drogas, que primeiro facilita, oferece e fornece, para depois explorar financeiramente a necessidade do viciado. Talvez não vejamos desta forma quando pensarmos nos galanteios, nas abordagens e nos procedimentos todos que envolvem a corte sexual, os procedimentos seguintes até a possível formação de uma família.

Talvez não vejamos desta forma quanto criamos toda uma situação de envolvimento psicológico bem definidos com nossos filhos em interesses que são somente nossos, apesar de “pelo bem dele”. Como dissemos, os procedimentos de marketing estão presentes no dia a dia de todos e de cada um. Na religião, na família, no comércio, e em tudo mais. Cabe a cada um ver com os olhos que quiser.

Talvez não vejamos assim quando nos preparamos para causar uma boa imagem numa entrevista importante, onde somos muito mais polidos que sinceros (e isto é educação), mais omissos que abrangentes, mais sugestivos que objetivos.

Quando se buscam atender as necessidades, na realidade se elegeram algumas carências para serem apontadas como importantes de serem atendidas, e por traz disso há sempre um interesse particular.

A carência psicológica de cada um se locupleta na satisfação das necessidades através de valores simbólicos. Nada tem um valor intrínseco, tudo é valor assimilado por aprendizagem. Sabendo disso o produtor (marketing)  de uma “espiringuela” [2] qualquer promove a valoração do seu produto e a necessidade de consumi-lo via exploração de uma carência.

O professor que descobre isso é capaz de fazer qualquer aula parecer uma maravilha diante a seus alunos, parecer mais sábio que os outros, ser muito mais procurado e valorizado.

Não é admissível, já no início do século vinte e um, nesta aldeia globalizada, onde tudo e todos estão submetidos aos ditames dos interesses maiores do marketing internacional, que este não seja objeto de estudos mais aplicados.

Pode-se entender a universidade enclausurada da Idade Média estudando Aristóteles, grego e latim, enquanto o povo morria de peste e de fome; afinal o estudo, para a maioria, era apenas um passatempo na clausura e as castas não se misturavam, viviam em mundos diferentes. Mas hoje, onde tudo e todos estão vivendo sob o jugo do dinheiro, procurando ganhar dinheiro para poder gastar naquilo que o marketing desenvolveu como interessante e desejável, deixar de estudar marketing é nó mínimo uma grande miopia.

O interesse pelo marketing, o conhecimento do processo, pelas autoridades universitárias, direção e coordenação poderia já proporcionar um melhor direcionamento curricular dos seus produtos (formação e ensino) suficientes e necessários para atender as necessidades da sua clientela que são os alunos. O manejo das ferramentas e dos conceitos de marketing pelos professores poderia melhorar em muito a relação professor-aluno, na venda de idéia, tal como se exige no marketing a concentração de esforços voltada para o atendimento que promova a satisfação do cliente.

Cada instante é um começo. Penetrar no instante significa buscar a totalidade. O ponto do começo está aqui, agora. Só se pode começar agora. Onde se está agora está o começo, e este começo agora me revela a proveniência buscada. [3]

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[1] Aurelio CD

[2] Espiringuela, termo utilizado nos meios de marketing, para se referir a um suposto produto qualquer, não especificado. Um produto genérico.

[3] RIBEIRO, Jorge Ponciano. Gestalt – Terapia, refazendo um caminho. p. 31

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