- introdução
Martino (2001:15), fazendo uma análise etimológica do termo, considerando os diversos conceitos e empregos do termo comunicação, aproxima muito “comunicar” com “relacionar”. “Assim, compartilhar, transmitir, anunciar, trocar, reunir, ligar (pôr em contato), são expressões, variantes ou usos figurados de um sentido primordial e mais geral que exprime ‘relação’”.
Braga e Calazans (2001) vão dizer que:
O termo “conversação” tem a vantagem de não se confundir com qualquer outro tipo de interação social. A expressão “conversar” chama a atenção imediatamente para o aspecto de troca comunicacional, ainda que os objetivos de uma “conversa” possam ser de diversas naturezas – econômica, política, militar, científica ou casual. (p.16)
Houaiss (2001) diz que conversar é trocar palavras ou ideias com alguém. Ora, a troca supõe a valoração dos elementos em troca, supõe considerar o valor, portanto o significado, da fala do outro. Conversar então é ver o verso, ver o outro lado da questão. Martino (2001:14) ao final de longo discurso sobre as possibilidades do que seja a comunicação acaba por exprimir uma frase essencial: “ … um tipo de relação intencional exercida sobre outrem”.
Braga e Calazans (2001) dizem que comunicação é conatural ao ser humano e que não há comunidade, não há sociedade, sem comunicação entre os homens, vale dizer que seres humanos interagem, convivem, agem em comum, vivem em comum, se comunicam sempre. Esses autores traçam uma linha pela história resgatando os usos e costumes de interação entre os homens, ou seja, as mudanças nos modos de comunicação social. Assim a comunicação entre os gregos, a peripatética e a retórica, logicamente são muito diferentes dos embates e encontros humanos da época atual, com o advento do computador e das redes internacionais de transmissão de dados.
Hohlfeldt (2001) vai dizer que os primeiros estudos sobre a comunicação, na história do ocidente, se devem ao movimento sofista na Grécia no século V a.C. Os sofistas utilizavam a fala com maestria tanto para ludibriar pelas palavras, conquistar e submeter os homens, quanto para a educação e o desenvolvimento, tal como o processo da “maiêutica” em Sócrates. Pelo processo de perguntas, entendia Sócrates, o homem é levado a consultar o saber que está dentro de si, um contato com a própria verdade. Os diálogos daquela época ainda persistem como objetos de estudos.
O aprendizado da comunicação, ou a possibilidade ou não do ensino da comunicação, já era discutido naquela época. Sócrates e Platão pendiam para a impossibilidade do ensino, pois a verdade, ou a sabedoria, seriam inatas, daí a “maiêutica” como processo de descoberta, de desvelo, não de ensino. Aristóteles, discípulo de Platão, já trazia o conceito de imitação, de aprendizagem por imitação e vai desenvolver na Retórica as questões do discurso e da oratória.
Aristóteles já organizava o discurso de uma das formas como se estuda ainda hoje: “a pessoa que fala” à “aquilo do que se fala” à “pessoa a quem se fala” (Hohlfeldt, 2001)
Até então se refere à comunicação com a necessária presença física de duas ou mais pessoas. É a partir da organização do Império Romano que a comunicação começa a sofrer interferências das mediações: os relatos passam a ser sistematicamente registrados de forma escrita. O acesso à informação, um processo comunicativo, já não exige mais a presença física de duas pessoas; num momento é a pessoa que escreve o texto, noutro é a pessoa que lê o texto. Caio Júlio César, século I a.C. implanta o registro das sessões do senado, as “acta diurna” (Hohlfeldt, 2001) por consequência surgem os relatos escritos das mais diversas as atividades.
A partir dos tipos móveis de Gutenberg, no século XV, a comunicação vai ser mediada pela letra impressa; a tipografia vai permitir a vulgarização da escrita. Nos séculos XVII e XVIII o mundo se moderniza, mas é somente em meados do século XX que a comunicação se estende por muitas mediações, o jornal, o rádio, o cinema, a televisão, o telefone, a Internet. O domínio dos meios de comunicação de massa se estabelece como fonte e controle de poder. A sociedade passa a ser mediatizada, o fluxo de informação e as relações sociais não são mais restritos aos encontros pessoais, surge o poder do meio da mensagem, a mídia. Hoje não se pode falar de comunicação sem considerar todos os meios possíveis e imagináveis de divulgação e alcance. Os meios continuam em constantes mudanças e aprimoramentos. Obras como Ilíada e Odisséia, originalmente transmitidas verbalmente em audiências limitadas ao alcance da voz do orador, agora são digitalizadas com imagens e sons, sendo transmitidas por satélites para o mundo todo; os meios mudaram, alguns textos continuam os mesmos.
Falar de passado em meios de comunicação é falar de pouco mais do que ontem. A cada década se dobram as possibilidades e os meios. Nos últimos cinquenta anos, partimos da caneta de pena e do telégrafo para o computador de bolso e a Internet. Com a multiplicação dos meios de comunicação e com o vertiginoso desenvolvimento dos equipamentos, as possibilidades de alcance imediato, e praticamente ilimitado, despertaram interesses políticos e econômicos de maior grandeza. Isso não implica em dizer que as pessoas tenham mudado tanto. Tanto na organização quanto no mercado, o relacionamento se dá entre pessoas, entre indivíduos que se comunicam.
- No mercado
O relacionamento com o mercado é o fluxo de vida para qualquer organização. A relação do produtor com o consumidor é uma atividade vital para a empresa, pois que ninguém se estabelece que não seja para a prestação de um serviço a outrem, e para tanto é vital o estabelecimento de um canal de comunicação e relacionamento entre as partes. A empresa, conforme Minoto (2002), se institui para realização de uma missão, constituindo um corpo organizacional capaz de expressar a razão de sua existência, atingindo seus objetivos. Citando Campos (2002), nos remete à estrutura básica dos elos comunicantes de uma empresa que convivem exatamente nas relações de interesses, tais como os acionistas ou investidores, interessados no lucro; os clientes, como usuários dos produtos ou serviços; os funcionários como fornecedores da mão-de-obra suficiente e necessária para o funcionamento; e, por consequência uma diversidade de outras estruturas que se comunicam, se interagem, se relacionam, em paralelo ou em consequência das atividades empresariais, tais como a comunidade, o governo, a concorrência, etc.
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- Na organização
Minoto (2002) ainda alerta para necessidade da boa comunicação entre todas as partes envolvidas, convergindo para objetivos claros e definidos, mas que nem sempre isto é visto como uma ferramenta estratégica. Pois “Os gestores das organizações, em sua racionalidade, tendem à obtenção de resultados concretos, tangíveis, mensuráveis.”
- Glossário
Desvelar – pôr-se à vista ou pôr à vista (objeto, corpo etc.), retirando o véu que (o) recobria; fazer conhecer; revelar; tornar claro; elucidar, esclarecer. (Houaiss, 2001)
Interação – influência mútua de órgãos ou organismos inter-relacionados; ação recíproca de dois ou mais corpos; atividade ou trabalho compartilhado, em que existem trocas e influências recíprocas; comunicação entre pessoas que convivem; diálogo, trato, contato conjunto das ações e relações entre os membros de um grupo ou entre grupos de uma comunidade; … (Houaiss, 2001)
Peripatética – relativo ao pensamento do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.); que se ensina andando, passeando, como era o costume de Aristóteles. (Houaiss, 2001)
Retórica – a arte da eloquência, a arte de bem argumentar; arte da palavra; conjunto de regras que constituem a arte do bem dizer, a arte da eloquência; oratória; uma das três disciplinas de que se constituía o trivium, na Idade Média, e era ensinada nas universidades; aula em que se ensinava essa arte; livro ou tratado sobre retórica; uso da eloquência; utilização dos recursos, das regras da retórica; emprego de procedimentos enfáticos e pomposos para persuadir ou por exibição; discurso bombástico, enfático, ornamentado e vazio. (Houaiss, 2001)
Valoração – ato ou efeito de valorar, de determinar a qualidade ou o valor de algo; juízo crítico avaliativo expresso por alguém sobre algo. (Houaiss, 2001)
- Referências Bibliográficas
Braga, J. L. e Calazans, R. Comunicação e educação – questões delicadas na interface. São Paulo: Haker Editores, 2001. 164 p.
Campos, Vicente Falconi. TQC – Controle da Qualidade Total (no Estilo Japonês). 3ª. ed. Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1992. citado em Minoto, [sd.]
Hohlfeldt, A., Martino L. C. e França V. V. (orgs) Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis: Ed. Vozes, 2001. 310p.
Houaiss, Antonio. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro – Editora Objetiva, 2001 [CD]
Martino L.C. in: Hohlfeldt, A., Martino L. C. e França V. V. (orgs) Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis: Ed. Vozes, 2001. 310p.
Minotto, Ricardo. Comunicação organizacional como meio à efetividade das estratégias empresarias. Revista Comunicação Organizacional, do Grupo de Estudos Avançados em Comunicação Organizacional – GEACOR Porto Alegre: PUC-RS, 2002. consultada no site: http://www.pucrs.br/famecos/geacor/texto13.html, em 30/09/2005