Você sabe que não sou da área jornalística, mas num certo momento tive que estudar antropologia.
“A cultura humana é um conjunto de textos (…) na qual o antropólogo deve saber ler por sobre os ombros daqueles a quem esta cultura pertence.” Clifford Geertz (1973a:452).Clifford James Geertz in: “A Interpretação das Culturas”. Rio de Janeiro – LTC 1989
Tergiversando sobre o autor, tudo que se fala, se fala do texto produzido por alguém. Depois se pode supor que se julga um fato (como se diz no jurídico: O que consta nos autos), mas na realidade se julga o texto produzido por alguém a partir se sua observação e até mesmo de sua intenção sobre o ocorrido ou sobre o observado.
Há o texto que pretende relatar o fato, como se pudesse retratar o momento, mas o texto, longe se ser fiel e imparcial, é um olhar de quem vê o fato. Um olhar que pode estar focando exclusivamente num detalhe, sem perceber o todo. E do fato só vai restar aquele retrato, daquele texto.
Entendo que ao jornalista cabe procurar divulgar o fato, como dizia o repórter Esso:”a testemunha ocular da história”, mas cada vez mais leio a pretensão de explicar o fato, e, além disso, prever as consequências do fato. Daí minha observação sobre o olhar do sapateiro.
Tem mais, há jornalista que se arvora todo poderoso como dono da verdade, isso é função (ou melhor, pretensão) de pastor, não de jornalista.
Sobre escrever, lembro-me de uma passagem de um filme onde Morgan Freeman é um velho escritor. Sua vizinha, uma menina, pediu que lhe ensinasse escrever. O velho lhe disse: Escreva sobre o que vê na rua. Ela disse que não havia nada na rua. Ele emendou: Escreva sobre o que não tem na rua.
Abraços
Pedro