Antigamente, quando se vivia isolado pelas distâncias, pelas estradas ruins, quando os mantimentos eram transportados em lombos de burros, havia a necessidade de buscar alternativas para conservação dos alimentos.
As carnes eram saturadas de sal grosso ou prensadas e desidratadas para evitar, pelo menos em parte, a putrefação. Outras formas foram sendo desenvolvidas para conservação da carne, como frituras conservadas dentro da banha, ou embutidos defumados tais como lingüiça, salame e outros nomes atribuídos conforme as regiões.
Nas regiões de inverno rigoroso, como na Europa e América do Norte, era praticamente impossível sair de casa para comprar qualquer coisa durante as nevadas, pois isso havia necessidade de estocar alimentos para essas épocas. A estocagem de alimentos exigia processos de conservação.
Famílias que viviam isoladas mantinham o próprio sustento pela cria, engorda e abate de animais no próprio sítio, também desenvolveram processos para conservar parte dos animal abatido, para consumo posterior.
Quanto aos vegetais e frutas, pouco se fazia, pois se contentava em consumir os alimentos disponíveis em cada época. Exceção a conserva de tomate e algumas geleias de frutas.
Acostumada a consumir conservas, a população não percebeu as facilidades que agora se apresentam na oferta de alimentos frescos.
Hoje podem ser encontrados, diariamente, em qualquer supermercado, quitandas e feiras livres, alimentos frescos colhidos de véspera.
Pelo encurtamento das distâncias, se pode consumir alimentos frescos originários de outras cidades, outros estados e até do exterior.
Uma cereja colhida hoje em Portugal pode estar amanhã nas mesas de alguém em São Paulo. Uma flor colhida hoje em Piracaia pode estar amanhã tarde em casas da Europa. A Holambra funciona assim.
Mas não precisamos polarizar tanto, não precisamos de tantos extremos, vale lembrar que há oferta de alimentos de época, a preços de oferta, em qualquer lugar. Aliás, os alimentos de época, tanto frutas quanto verduras, são mais recomendáveis que os tratados química e artificialmente.
Ao invés de se escravizar ao cardápio fixo – arroz, feijão e linguiça, todos os dias, bem que se poderia buscar alternativas nutritivas e mais baratas com um cardápio variável conforme as ofertas do dia.
Em termos de saúde vale lembra que nenhum alimento é completo por si só, temos necessidade de buscar na variedade a complementação energética, proteica e as vitaminas, existentes em menor ou maior quantidade em alimentos diferentes, sejam cereais, frutas ou legumes.
É, no mínimo, estranho comprar milho verde em conservas quando se dispõe de milho verde fresco durante o ano todo em função de plantios e colheitas em épocas diferentes por todo o Brasil, além das culturas irrigadas que produzem durante o ano todo.
Comodismo parte, é bom olhar o lado da saúde da família, além do aspecto financeiro e econômico, pois as ofertas de época são sempre mais baratas que os alimentos de uso mais constante.
Rossi, P.S. Alimentação Natural. Folha da Mantiqueira. Piracaia-SP, 03 out 1997, p.6.
Ágape
Faz tempo que eu vinha procurando essa palavra. Ouvira dizer uma vez que os gregos tinham três termos distintos para isso que sempre dizemos em português que é o amor; lembrava sempre de Filos e Eros, mas nunca conseguia lembrar do terceiro termo: Ágape.
Hoje, numa jornada de sexualidade, ouvi de novo e agora vou tentar reconstituir, ou repensar, meus conceitos em cima disso.
Amor, tão cantado amor! Ideias ligadas ao prazer e satisfação, mas que provoca tanto sofrimento.
Filos, prazer e satisfação com relação às ideias abstratas e aos conceitos matemáticos, donde vem filosofia, uma busca do saber, pelo conhecer, pelo entender. É algo íntimo, uma relação consigo próprio e com os conceitos que se tem de si e das coisas. É um mundo dinâmico e sem fim, pois não há abstração que de conta de tantas possibilidades, não há o outro, nessa relação, só abstração.
Eros, prazer e satisfação com relação ao outro na relação sexual, donde vem o erótico, uma busca do prazer com o parceiro. Na verdade, é uma relação de submissão e sujeição ao outro. É uma relação meio louca de fazer o que puder para que o outro goste e então se sinta gostoso, gostado, aprovado. Fica-se na dependência da aprovação do outro. O ato físico exige o complemento de uma abstração na busca do entendimento da intimidade do pensamento e dos valores do outro com relação ao ato próprio.
Ágape, o prazer e a satisfação ligados ao gosto de comer, de degustar. não há consideração pelo outro. O outro só serve para ser incorporado (comido) como objeto de prazer. Se eu como uma banana, não me interessa saber o que a banana pensa disso. Em português só sobrou o termo ágape como um jantar entre amigos, ou historicamente, a refeição que os cristãos primitivos faziam em comum.
Agora temos um problema matemático em nosso português: 1+1+1=1. Estamos pegando três situações diferentes e misturando tudo. E aí, como entender?
Se você diz que me ama, o que vou entender?
- Que você tem o prazer e a satisfação em me conhecer, saber da minha existência, conhecer o ser que eu sou; ou
- Que tem o prazer e a satisfação em nosso relacionamento, onde sou aceito e aprovado pelo seu julgamento, pelos seus valores; ou
- Que tem o prazer e a satisfação em me comer, para seu deleite, independentemente de mim?
A dificuldade da língua portuguesa, em exprimir sentimentos e situações diferentes com as mesmas palavras, nos tem deixado quase loucos. Ou pelo menos um pouco confusos.
Há quem diga que ama alguém, no sentido de Filos, e o outro fica esperando ser amado no sentido de Eros, e os dois acabam fazendo amor, no sentido de Ágape, cada um comendo o outro. Mas não era Ágape que o primeiro queria, só Filos, e isso dá indigestão; e não era Ágape que o outro queria, mas Eros, e tudo acaba em frustração.