Administração de recursos humanos

1. introdução


“Navegar é preciso, viver não é preciso” 
Fernando Pessoa

Quando os navegadores diziam que “navegar é preciso e que viver não é preciso”, estavam utilizando o termo “precisão” no sentido de exatidão, de concisão, de procedimentos tecnológicos utilizados na condução da embarcação. Navegar exige
mesmo um planejamento exato de começo, meio e fim (vide as navegações de Almir Klink).

Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) já utilizava essa metáfora (viajar e viver) quando dizia “quem não sabe para onde vai, nenhum vento é favorável” referindo-se à falta de planejamento na vida.

Viver, no entanto, já não é tão preciso, nem admite tanto rigor científico.

Fernando Pessoa, em seu poema, diz querer transformar o sentido da expressão para casar com seus interesses, ou seja, tomar a acepção do termo precisão no sentido de necessidade.

Foram e ainda são muitas as tentativas de administrar o ser humano como se fosse algo previsível e controlável. Frederick Winslow Taylor(1856-1915), engenheiro e economista americano tentava conseguir o melhor rendimento possível da máquina humana. Henri Fayol (1841-1925), engenheiro e administrador francês pretendeu estabelecer os princípios da administração baseados no planejamento do conjunto e o comando das partes. Peter Drucker, (1909- …..), austríaco radicado nos Estados Unidos vai nos alertar que a dificuldade básica da administração é que o ser humano não é uma máquina. (vide adendo).

2. Fragmentação das tarefas industriais.

Antes as pessoas tinham um nome e uma qualificação a partir da origem, fosse da família, fosse da localidade. Perguntasse “quem é você”, se teria a resposta: “sou fulano, filho de sicrano, de tal lugar” (vide Vida e Morte Severina).
Agora, neste contexto hegemonicamente industrializado, o entendimento do ser humano passa de um olhar do “ser” para o olhar do “estar”. Do ‘ser’ alguém para o ‘estar’ na função. Tente perguntar a alguma pessoa ao seu redor: “Quem é você?”, e se surpreenda se a resposta não for funcional do tipo, eu sou trabalhador nisso ou naquilo. Não é a identidade pessoal que se informa como resposta, mas a identidade funcional, a carteira profissional.

A pessoa não chega a ser alguém para si mesmo, em si mesmo, mas se coloca como função operacional no contexto produtivo; se um dia perde o crachá, perde a identidade; se fica desempregado, deixa de ser gente. Enfim, a fragmentação das tarefas industriais, função das necessidades operacionais, influi no fracionamento da personalidade.

3. A comunicação nas relações

Considerando que comunicar é, em essência, tornar comum, e que, as relações somente acontecem entre as pessoas, não existe comunicação funcional, mas fluxo de informação de chefes para subordinados, ou fluxo de informações entre funções
do mesmo escalão.

Na comunicação há a conversa (considerar o verso), há a troca de informações e a equilibração das tensões. No fluxo de informação há uma remessa empacotada de um emitente para um receptor, sem que se considerem as possibilidades de
entendimento ou retorno.

A comunicação nas relações pessoais dependem de “feedback”, da interatividade, da participação pessoal. O fluxo de informação é um direito estabelecido e consentido.

4. Glossário

Metáfora: (estilística, lingüística, retórica): designação de um objeto ou qualidade mediante uma palavra que designa outro objeto ou qualidade que tem com o primeiro uma relação de semelhança (p.ex., ele tem uma vontade de ferro, para
designar uma vontade forte, como o ferro). (HOUAISS, 2001)

5. Referências Bibliográficas

DRUCKER, Peter F. Fator humano e desempenho. São Paulo: Pioneira, 1981.
HOUAISS, Antonio. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro – Editora Objetiva, 2001 [CD]
P.SCHULTZ, Duane. Teorias da personalidade. São Paulo: Pioneira Thomson, 2004. 530 p.

6. Anexo

Navegar é Preciso

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
“Navegar é preciso; viver não é preciso”.
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Fernando Pessoa

Sugestão de leitura:
Rossi, P.S. Viver é preciso, trabalhar não é preciso. In. Saúde, no site www.psrossi.com

Ou http://geocities.yahoo.com.br/psrossi/qsau.html

Anexo:
Projetos de máquinas e projetos humanos, conforme Druker (1981: 292/293):
Primeiramente, existe uma dimensão fisiológica. O ser humano não é uma máquina e não trabalha como uma máquina.
As máquinas trabalham melhor se executarem apenas uma tarefa, se esta for repetitiva e se for mais simples possível. As tarefas complexas são melhor executadas como um série passo a passo de tarefas elementares onde o trabalho desloca-se de máquina em máquina – seja através de deslocamento físico do próprio trabalho, como na linha de montagem; seja dispondo as máquinas e ferramentas numa seqüência pré estabelecida para o trabalho e mudando o instrumento de cada etapa do processo, como acontece com as modernas máquinas operatrizes controladas por computadores. As máquinas trabalham melhor se funcionarem a uma velocidade constante, a um ritmo constante e com um mínimo de
peças móveis. A engenharia do ser humano é bastante diferente. Ele não se adapta vem execução de uma única tarefa ou de um única operação. Falta-lhe força. Falta-lhe energia.
Fica cansado. No conjunto, o ser humano é uma máquina muito mal projetada. Por percepção e ação. E trabalha melhor se todo o seu corpo – músculos, sentidos, mente – estiver empenhado no trabalho. (…)
Não existe “uma velocidade certa” ou “um ritmo certo” para os seres humanos. A velocidade, o ritmo e a amplitude da atenção variam enormemente de indivíduo para indivíduo. Estudos com crianças mostram claramente que os padrões de
velocidade, ritmo e atenção são tão pessoais quanto as impressões digitais. Cada indivíduo tem, em outras palavras, o seu próprio padrão de velocidade e sua própria necessidade de variá-las; o seu próprio padrão rítmico; o seu próprio padrão de atenção. Nós agora sabemos que não há nada que gere tanta fadiga, tanta resistência, tanta raiva e tanto rancor quanto à imposição de uma velocidade estranho, de um ritmo estranho e de uma amplitude de atenção estranha pessoa e, sobretudo, quando a imposição de um padrão uniforme e invariável destes fatores. Isto é estranha e fisiologicamente ofensivo a todo ser humano. Resulta num rápido acúmulo de toxinas nos músculos, no cérebro e no sangue, na liberação de hormônios de tensão e em alteração na tensão elétrica por todo sistema nervoso. Para ser produtivo, o indivíduo precisa de um controle considerável sobre a velocidade, o ritmo e a amplitude de atenção com que trabalha – da mesma forma como uma criança, ao aprender a falar ou a andar, precisa de considerável controle sobre a velocidade, o ritmo e a amplitude de atenção da aprendizagem. … O que constitui excelente engenharia industrial para o trabalho é, por outro lado, péssima engenharia humana para o trabalhador.

Esta entrada foi publicada em Educação e marcada com a tag , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.