A porta de entrada para o terceiro grau

Agonia é uma sensação de descontrole sobre o próprio destino, por não saber o que vai acontecer consigo próprio.

No momento em que toda uma vida pregressa de preparação e estudos vai ser submetida a estranhos detentores do direito de avaliar e comparar, o jovem, que exatamente por esta condição, não tem a maturidade suficiente para viver sem a aprovação dos outros, sofre instantes que parecem durar uma vida toda.

Nesse momento qualquer deslize de memória parece resgatar a maior das culpas por não ter sido capaz disso ou daquilo. A maioria dos processos de preparação para a competição não passa de exercícios de memorização, aprendizagem é outro departamento.

A pressão da família, dos parentes, dos amigos, de todo contexto, é uma carga muito pesada para o jovem que nem mesmo domina as matérias do programa, quanto mais os mecanismos de superação de tamanha empreitada.

Por ser seletivo, o processo vestibular, muitas matérias São exigidas tal como um ritual de iniciação. Muitos desses conhecimentos nunca mais serão exigidos nem utilizados, servem apenas como senha de entrada (vestíbulo é a entrada de uma casa, de um prédio, tal como a escola). O trauma de não passar no vestibular é uma sensação de incompetência, da reprovação perante estranhos e conhecidos, é como sentir uma porta batida na cara e ficar fora ouvindo a festa lá dentro.

Não passar neste ou naquele vestibular não vai determinar o sucesso ou fracasso perante a vida. Há muitos caminhos que podem levar ao mesmo lugar, uns mais curtos, outros mais longos.

Competitividade

Assim como a maioria das atividades da sociedade moderna, o vestibular é um jogo com determinadas regras. Um jogo da Seleção Brasileira de Futebol pode ter as mais lindas jogadas, o mais completo domínio de campo, mas tudo que conta é o resultado do jogo, em quantidade de gols a favor.

Manga, goleiro da seleção, dizia que o Gilmar era melhor para a seleção. Quanto o Manga jogava, defendia dez chutes, deixava passar um, a seleção perdia de 1 a 0 e ele era criticado; quando o Gilmar jogava, defendia 5 chutes, deixava passar 3 e a seleção fazia 4 gols e ganhava de 4 a 3, todos ficavam satisfeitos.

A competição tem dessas coisas, depende muito da sorte própria e da sorte do adversário.

Você quer ser rabo de cobra ou cabeça de minhoca?

Quando maior for o objetivo a ser alcançado, maiores São as possibilidades de fracasso. Objetivos rasos podem ser superados por qualquer um.

Vestibular não é medida de inteligência, mas de habilidades perante tais regras de jogo competitivo. Uma classe de primeiro ano pode ser formada tanto pelos mais hábeis estudantes egressos do segundo grau, quanto por restos de listas em segunda ou terceira opção.

Isso não é o fim, nem o começo da sua vida. Lembre-se, você já venceu competições desse tipo em outras ocasiões.

(texto publicado na Folha da Mantiqueira, Piracaia-SP, 1997)

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