Vamos começar falando do primeiro tema, pois manda a decência que cumpramos o prometido. Ninguém é obrigado a prometer nada, mas se prometeu tem que cumprir. Se está no programa, tem que ser abordado. O primeiro tema do programa é sobre o envolvimento da plateia com o discurso do apresentador, ou do orador, ou do apresentador, seja lá quem for, conforme a ocasião.
Comunicar é tornar comum um conhecimento ou uma informação. Normalmente a conversa é mais eficiente que a fala na comunicação de uma ideia, pois enquanto a fala é só o uso de palavras, a conversa considera a plateia, o nível de conhecimento e o nível de interesse da plateia, por conversar é considerar o verso, considerar o outro.
Eu começo dizendo que nem todas as plateias estão interessadas no orador, tanto na empresa quanto na escola. Muitas vezes na empresa os empregados são convocados para ouvir alguém quando a maioria das pessoas convocadas tem algo mais importante a fazer. Nem sempre o processo de comunicação interna prepara o público para, pelo menos, aceitar ouvir alguém que vem de fora para dizer algo. Na escola, seja em apresentação de trabalhos curriculares, seja na apresentação do TCC, da dissertação ou da tese, muitos dos que ali estão, mesmo na banca examinadora, não tem qualquer interesse no assunto, nem simpatia pelo orador.
Há alguns anos fui convidado para dar um curso de uma semana numa empresa em Porto Alegre. Segunda-feira, oito horas da manhã, lá estava no endereço fornecido, uma escola no bairro de Santa Tereza. Todo esforço em conseguir a participação da plateia era em vão. Lá pelas dez horas, eu disse:
– Agora uma pausa para o cafezinho.
– Não tem café.
Disse o supervisor da turma. Ninguém se movimentou do lugar.
– Tentei brincar: vamos tomar um chimarrão então!
O mesmo supervisor ironizou:
– E lá tu tomas chimarrão?
Respondi:
– Tomo, de vez em quando, para experimentar.
– Mas tu faz cara feia, né tchê?
A essa altura dos acontecimentos, percebendo o nível de tensão, pensei comigo: “pra gaúcho, gaúcho e meio” e falei alto e em bom tom:
– Faço cara feia quando o mate está aguado, pois gosto mesmo é do amargo da erva.
Dito isso sai da sala procurando a cantina da escola, mas não estava aberta e fui até ao bar da esquina onde não tinha café e tomei um guaraná.
Voltei como se nada tivesse acontecido e levei o treinamento até à hora do almoço,
Logicamente fui almoçar sozinho.
Depois do almoço apareceram quatro guapos com toda tralha de fazer o chimarrão. O supervisor, aquele do confronto, preparou uma cuia e me passou para ver minha reação. Ao levar a cuia à boca, senti o cheiro de algo bem conhecido: de boldo-do-chile. Ele havia machucado uma folha verde de boldo no fundo da cuia para deixar o chimarrão bem amargo. Tomei calmamente o chimarrão, enchi de novo a cuia e passei para ele tomar em seguida. Ele não queria tomar, pois sabia do gosto que tinha. Foi minha desforra:
– Bah, tchê! Fugindo de um amarguinho desse? Isso lá em casa mainha dava de chá pra dor de barriga de piá.
Foi ousado, mas tinha que agredir para conseguir respeito de uma equipe de vendedores de campo, que fora convocada pela empresa e passar uma semana em treinamento interno com um desconhecido. No dia seguinte já tive companhia para o almoço, depois um convite para jantar e no final do curso, uma festa na churrascaria onde cada um levou a família.
Nem sempre a plateia está interessada na fala do orador, cabe a este achar um ponto favorável para ligação efetiva da comunicação. Vejamos alguns tipos de relação entre orador e plateia: aluno-professor; aluno-banca; aluno-colegas; e, na empresa, subordinado-chefe; projetista-equipe; relator-diretoria; e, até mesmo, vendedor-comprador.
O aluno tem a seu desfavor a ideia de que o professor sabe tudo que o aluno vai falar. Geralmente é verdade, mas nem tanto. A maioria dos professores está mesmo interessada nas falhas do aluno para decrescer a nota, mas não são todos assim. Geralmente o aluno se atrapalha ao tentar mostrar o que sabe, ou acha que sabe. Melhor seria mostrar o que tentou aprender e as dúvidas que ficaram. Mostrar o que tentou aprender é fazer o relatório da pesquisa, e, se pesquisou mesmo, vai ter uma série de dúvidas mesmo, pois a obrigação do aluno não é ensinar o professor, mas fazer o relatório da sua aprendizagem. O mesmo é válido para um trabalho de classe e para um TCC, tanto na formação quanto na especialização. A dissertação já é uma demonstração da capacidade de pesquisar e a tese deve mostrar a capacidade de analisar uma pesquisa. Embora haja por aí uma série de opiniões diferentes disso.
Nas empresas, em geral, existem muitas reuniões e pouca realização efetiva. Lee Yacocca era presidente da Ford quando encontrou um jeito de se livrar de sonhadores. Quando alguém chegava falando de ideias, Yacocca dizia que se interessava e pedia que o falador fizesse um projeto e mandasse para ele. Três em cada quatro nunca mais tocavam no assunto. Escrever o que fala obriga o falador a pensar no que ele diz, coisa que normalmente não faz. Seja um projeto técnico, seja um relatório de resultado, a apresentação do executivo na sua empresa precisa ser escrito tudo antes. Esta palestra que estou fazendo, isso que estou tentando falar com vocês, já foi escrita e reescrita diversas vezes. Fica tudo tão natural que até parece improviso, mas até as piadas estão escritas. Alias, como veremos mais adiante, o ator é bom quando não parece que está atuando. Os vendedores, na sua grande maioria, não escrevem o seu texto, mas com o tempo acabam decorando um discurso que lhes parece bom e natural, é a texto aprimorado pelo tempo; um texto que poderia ser escrito como projeto e depois utilizado na prática.
Ao escrever o texto, o autor deve pensar o que vai falar e para quem vai falar. No meu caso aqui, eu pretendo falar sobre o aprendizado possível e o desenvolvimento necessário nas técnicas de apresentação, supondo que vocês estejam interessados nisso. Ninguém veio aqui porque foi obrigado, mas porque ficou, no mínimo, curioso sobre o assunto.
Contando com essa curiosidade a minha técnica de discurso será a de aguçar essa curiosidade sem nunca esgotar o assunto, pois o meu interesse é que vocês se interessem em fazer o curso de quinze horas, onde se detalham alguns procedimentos e técnicas.
O tema é o envolvimento da plateia com o assunto, espero então poder utilizar o interesse e aguçar a curiosidade, de vocês, sobre o assunto. Se alguém estava pensando em como resolver um problema difícil de comunicação na palestra, eu já comecei dando o exemplo de Porto Alegre “pra gaúcho, gaúcho e meio”. Tem mais, mas no curso.