A teoria de Piaget sobre o desenvolvimento do raciocínio, se colocado em termos gráficos, mais parece um esquema de ligações elétricas, onde um ponto se liga a outro por um fio. Uma informação, ao se ligar a outra, cria uma linha por onde caminha o pensamento; a adição ou conquista de um novo ponto de informação, um novo dado, permite que este se ligue aos pontos já existentes, desenvolvendo uma malha por onde flui o pensamento. Daí os seus seguidores valorizarem tanto o processo que chamam de construtivismo, onde a criança, dado a dado, informação a informação, vai construindo o seu modo de pensar o mundo. O aprendizado, segundo esses, é um processo de construção.
Usando essa figura, imaginemos um construtor, fazendo uma casa de madeira, ligando ponto a ponto do seu planejamento de acordo com as disponibilidades, criando uma estrutura, que comece a correr e forçar a colocação de peças em lugares que não estão suficientemente preparadas em encaixe e medidas. Vai atrapalhar todo trabalho, ficar nervoso e não conseguirá terminar a obra. O recomendável será olhar o que já está pronto, os pontos que podem ser ligados, verificar se é o momento de colocar esta ou aquela peça.
Todos sabem que o profissional, aquele que sabe o que está fazendo, vai colocando peça por peça, batendo prego por prego, confiante nos resultados que vai conseguir. Enquanto o novato ou curioso pode tentar levantar a obra sem os calços necessários, sem os apoios, e mesmo colocando pregos mais fortes, peças inadequadas para as exigências da obra, pode acabar por provocar um desastre até mesmo antes de terminar a construção.
Com o pensamento, se pensarmos em montagem de uma estrutura, se pensarmos em ligar os pontos conhecidos para descobertas de novos caminhos, não podemos estar ansiosos, nem afobados. É preciso toda calma, para dar um passo de cada vez. Mesmo que seja para tomar a decisão de saltar ou sair correndo.
Tomemos uma figura que todos conhecem – um carro.
O condutor, o motorista que observa e resolve agir conforme as informações que recebe pelos olhos, pelos ouvidos, até pelo tato, e compara com as informações que já estão arquivadas, se faz senhor da situação, com calma, consegue superar alguns obstáculos e conduzir o veículo sem maiores problemas até um determinado ponto. Agora, se estiver ansioso, inquieto, impaciente, pode atolar o veículo, estourar um câmbio, queimar uma embreagem, esquentar o motor e até fundir.
Com o corpo não é diferente, o comando do cérebro, no processo de pensar o que deva e possa ser feito, vai fluindo de acordo com a liberdade que se der ao ato de pensar.
Um motorista sob pressão pode fazer besteira, isso acontece até com os melhores pilotos, basta observar o trabalho de concentração que fazem os competidores de Fórmula Um; o cérebro não é diferente, quanto mais liberdade se der para o cérebro tomar as decisões, melhores poderão ser os resultados. Daí a recomendação de relaxamento e concentração.
Stress
O coelho pensa muito pouco, a qualquer sinal de perigo, produz noradrenalina e foge até um lugar seguro. O leão também pensa pouco, a qualquer sinal de perigo, produz adrenalina e ataca, vai fundo no problema. O homem pensa demais:
Não sei se vou ou se fico, não sei se fico ou se vou. Se vou, sei que não fico, se fico, sei que não vou.
O corpo, com o pensamento dessa forma, não sabe se produz adrenalina, ou noradrenalina, ou os dois. O resultado é a dor muscular, pois enquanto um comando puxa para um lado, outro comando puxa para outro. É como acelerar o carro, e pisar no freio ao mesmo tempo.
ROSSI, P.S. Folha da Mantiqueira. Piracaia-SP, 08 nov 1997, p.5