as funções do adjetivo e do advérbio
Eu vou contar para vocês uma história muito emocionante, cuidado para não chorar em público:
A menina saiu de casa, atravessou o jardim, entrou no bosque, chegou à estrada, o caminhou matou.
E então? Está emocionado? É claro que não. A história com tal conteúdo dramático não chega a emocionar ninguém, pode servir apenas como roteiro no desenvolvimento da história. Fazendo uma análise bem simples, descobrimos uma falha básica nessa narração: não tem adjetivos nem advérbios.
O adjetivo atribui uma qualidade específica ao substantivo, pode indicar os estados das pessoas ou das coisas. Muda muito o sentido da narração quando explicita graus de comparação e diferenciação. A qualidade pode ser expressa de forma normal – ela é linda; ou de forma comparativa – ela é mais linda que a flor; ou de forma superlativa – ela é lindíssima.
O advérbio complementa o sentido do verbo, do adjetivo e até de outro advérbio. Tempo: ontem, hoje, amanhã, agora, antes, depois, nunca, ainda, jamais, etc. Lugar: aqui, ali, além, abaixo, acima, perto, longe, etc. Quantidade: muito, pouco, nada, bastante, etc. Modo: como, assim, bem, mal, etc., e as palavras terminadas em …mente (normalmente, dificilmente, atualmente, etc.). Afirmação: Sim, exato, certo, etc. Negação: não, nunca, jamais, etc. Dúvida: Talvez, quiçá, acaso, etc.
Para voltarmos nossa história, vamos nos munir de algumas perguntas para auxiliar a redação:
O que, onde, quando, por que, como, quem?
Na história, temos substantivos e verbos “pelados, nus e crus”. Vamos utilizar o “roteiro”, fazer algumas perguntas e desenvolver as respostas utilizando sempre adjetivos e advérbios.
Lá no alto da serra, distante do mundo, no maior isolamento, convivendo integralmente com a natureza farta e exuberante, moravam um casal de agricultores e sua única filha.
Tão longe, tão distante de tudo, com tão difícil acesso pelas estradas de terra no meio da serra, a família passava meses sem receber uma só visita.
Enquanto os pais trabalhavam na roça, a pequenina ficava sozinha em casa, onde tinha por única companheira a sua boneca de pano.
Pano de chita, branco com bolinhas amarelinhas, restos de um vestido velho que m ãe gastara na labuta diária. Mas o vestido da boneca era de pano novo, um pedaço que sobrara do seu último vestido, também de chita, mas vermelho, o do Natal do ano passado, que ainda estava novo, pois só usava para ir missa. Só a boneca usava todos os dias.
A boneca até tinha cabelos longos, iguais aos seus, foram feitos com fios de linha amarela para também ser lourinha. Numa tarde de chuva, a mãe fez tranças nas duas, na menina e na boneca.
O tempo todo, conversando com a boneca, falava que a vovó logo estaria chegando, trazendo outros brinquedos. Ao tentar colocar a boneca sentada num canto e a boneca não parava, sempre ralhava com cara de brava: – Se você não ficar quietinha ai, quando a vovó chegar, vou brincar só com os brinquedos novos que ela vai trazer!
Aqueles olhos arregalados feitos com botões de uma camisa velha, nunca expressavam descontentamento com a brincadeira.
De repente, entra pela janela, uma borboleta azul…
Bem, vamos parar por aqui, isto é só uma sugestão para você continuar o exercício.
Do roteiro inicial, apenas fizemos algumas perguntas sobre a menina:
Onde? como? quando?
Quanto? Por que?
Com que? etc.
Respondendo as perguntas sobre cada coisa do roteiro, a história vai sendo construída.
(texto publicado na Folha da Mantiqueira, Piracaia-SP, 1997)
Desenvolvido a partir de uma aula com Mauricio Goes (ADVB -1996)