1. Vigotski

Lev Semyonovitch Vigotski (ou Vygotsky) nasceu em 5 de novembro de 1896. Era advogado e filólogo quando se interessou pelo estudo da psicologia, depois chegou a estudar medicina. Na época a psicologia era dominada pelo experimentalismo alemão de Wilhelm Wundt e o pragmatismo americano de William James, enquanto Vigotski resolve aproximar a psicologia do marxismo dominante no começo da revolução russa.

O que Vygotsky procurou foi uma abordagem abrangente que possibilitasse a descrição e a a explicação das funções psicológicas superiores, em termos aceitáveis para as ciências naturais. Para Vygotsky, essa explicação tinha o significado de uma grande tarefa. Ela deveria incluir a identificação dos mecanismos cerebrais subjacentes a uma determinada função; a explicação detalhada de sua história ao longo do desenvolviemnto, com o objetivo de estabelecer entre formas simples e complexas daquilo que aparentava ser o mesmo comportamento; e, de forma importante, deveria incluir a especificação do contexto social em que se deu o desenvolvimento do comportamento. (Vygotsky, 1998:7)

Ao insistir em que as funções psicológicas são um produto da atividade cerebral, tornou-se um dos primeiros defensores da associação do psicologia cognitiva experimental com a neurologia e a fisiologia. Finalmente, ao propor que tudo isso deveria ser entendido à luz da teoria marxista da história da sociedade humana, lançou as bases para uma ciência comportamental unificada. (Vygotsky, 1998:8)

Com seu amigo Luria, escreveu em 1930, “Estudos sobre a história do comportamento” onde se estabelece que o comportamento somente pode ser entendido como história do comportamento.
Morreu de tuberculose em 11 de junho de 1934.

3. A formação da personalidade

Vigotski pergunta (Vygotsky, 1998:25):

1. Qual a relação entre os seres humanos e o seu ambiente físico e social.

2. Quais as formas novas de atividades que fizeram com que o trabalho fosse o meio fundamental de relacionamento entre o homem e a natureza e quais são as consequências psicológicas dessas formas de atividade?, e

3. Qual a natureza das relações entre o uso de instrumento e o desenvolvimento da linguagem?

Dizia ele que nenhuma dessas perguntas estavam bem respondidas pela ciência da época.

4. Apropriação

Vygotsky trabalhou com as duas linhas de desenvolvimento do comportamento humano: a biológica (natural) e a histórica (cultural), tanto na filogênese (relativa ao desenvolvimento da nossa espécie) quanto na ontogênese (relativa ao e própria do sujeito). Na ontogênese, ocorre algo como uma fusão, interligando as duas linhas de desenvolvimento, social e biológica dando origem à formação da personalidade na criança.
É na práxis que o homem, em um contínuo processo de interação dialética com o meio, no qual tanto influi quanto é influenciado, desenvolve-se. Pela internalização das práticas do seu meio, ocorre o desenvolvimento que impulsiona os processos relacionados às funções psicológicas superiores como: atenção, memória, linguagem, pensamento emoção, imaginação e motivação. Essas funções são entendidas como unidades de um mesmo sistema de funcionamento e vistas como presentes nas ações humanas de modo integrado, alternando-se em relevância de acordo com a necessidade que se apresenta. (Zahra,2004, 50/51)

Os princípios da teoria (conforme Bock, 2002):

Vigostski morreu muito cedo e não pode completar sua obra, mas deixou alguns princípios aos seus seguidores:
• A compreensão das funções superiores do homem não pode ser alcançada pela psicologia animal, pois os animais não têm vida social.
• As funções superiores do homem não podem ser vistas apenas como resultado da maturação de um organismo que já possui, em potencial, tais capacidades.
• A linguagem e o pensamento humano têm origem social. A cultura faz parte do desenvolvimento humano e deve ser integrada ao estudo e à explicação das funções superiores.
• A consciência e o comportamento humano são aspectos integrados de uma unidade, não podendo ser isolados pela psicologia.

Vigotski desenvolveu, também, uma estrutura teórica marxista para a psicologia:
• Todos os fenômenos devem ser estudados como processos em permanente movimento e transformação.
• O homem constitui-se e se transforma ao atuar sobre a natureza com sua atividade e seus instrumentos.
• Não se pode construir qualquer conhecimento a partir do aparente, pois não se captam as determinações que são constitutivas do objeto. Ao con-trário, é preciso rastrear a evolução dos fenômenos, pois estão em sua gênese e em seu movimento as explicações para sua aparência atual.
• A mudança individual tem sua raiz nas condições sociais de vida. Assim não é a consciência do homem que determina as formas de vida, mas é a vida que se tem que determina a consciência.

5. Glossário

funções psicológicas superiores: atenção, memória, linguagem, pensamento emoção, imaginação e motivação.
materialismo histórico: Teoria marxista da sociedade, desenvolvida por Karl Marx em que as mudanças históricas na sociedade e na vida material produzem mudanças “na natureza humana”(consciência e comportamento).
materialismo dialético: método marxista em que os fenômenos são estudados como processos em movimento e em mudança.

6. Referências Bibliográficas

BOCK, Ana M. B. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2002
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998
ZAHRA, Fátima Ali. Um estudo sobre os sentidos atribuídos ao aprender por pessoas com dislexia. São Paulo: Universidade São Marcos. 2004. [dissertação de mestrado]